A inutilidade da perenidade

Nestes dias de pandemia, lembrei-me de um artigo de Luiza Nagib Eluf, publicado há alguns anos no jornal “O Estado de São Paulo”, falou com categoria e sapiência a respeito de bens, fatos, negócios, realidade, mistérios, enfim sobre todas as coisas, que às vezes, se tornam infindas, perpétuas e perenes.
Além de advogada, Procuradora da Justiça aposentada e ex-secretária nacional dos Direitos da Cidadania do Ministério da Justiça, é filha do saudoso Júlio Nagib, apresentador e responsável pelo famoso “Jornal da Noite”, da Rádio Tupy de São Paulo.

Ela retratou a situação em que se encontram os arquivos da cidade de São Paulo, “milhões de documentos guardados em prédios ou casas – muitas alugadas – sem que quase nunca serem consultados”. Verdadeiras toneladas de papéis, sem qualquer valor, tanto histórico como também de objetos de consultas.

Isto que acontece até nos pequenos municípios, sucede com frequência não só em domicílios como em instituições governamentais ou particulares. O advogado e ex-vereador local José Ribeiro, também historiador, lembra que na capital paulista – onde residiu – há poucos anos atrás, quase três mil quilos de, possivelmente, documentos e outros objetos, foram queimados. “Uma faxina que a prefeitura da Paulicéia executava para limpar alguns departamentos daquela megalópoles.

O fato, naturalmente, ocorre em casas particulares, quando alguns cômodos são ocupados por grande quantidade de livros, documentos e outras coisas sem utilidade e valor nenhum.
Lembramos que antigos professores e um prefeito de Itapetininga desfizeram suas bibliotecas quando atingiram “idade avançada”, enquanto o chefe do executivo determinou a queima de toneladas de papéis e documentos que, conforme suas declarações, “não tinham serventia alguma e ocupavam espaços sem necessidade”. Houve reclamações de alguns munícipes, mas concordaram posteriormente que “aquilo não significava nada, pois tudo se acaba um dia”.

Assim também pensava uma velha senhora, antiga moradora em uma das vilas desta cidade. Chamava-se Dona Jovelina, muito conhecida em Itapetininga, por ser quase uma figura folclórica.
Pois ela sempre dizia que o ser humano tem uma existência muito longa. Por isso não gostou e ficou muito apreensiva, quando soube pela televisão que com os avanços da medicina a gente poderia viver até os 150 anos. Ela se exasperou, porque “…tenho 85 anos e não concordo com a notícia”. Então matutava: “tenho que viver mais 65 anos e o que eu vou fazer durante todo esse tempo? Sobre a terceira idade ela nem falava. Ironizava, “vai ter quarta, quinta, sexta e mais idades”. Proclamava que gostava de fazer bolo, mas não ia aguentar preparar bolos durante tantos anos assim.

Pior, dizia em desespero: “…não aguentaria o “marido aposentado, sentado no sofá, pedindo a todo momento mais uma cerveja ou um café e se arrastando até o banheiro para desembarque hídrico. Dona Jovelina faleceu há trinta anos atrás, mas até hoje a medicina não conseguiu encontrar a fórmula de viver até o sesquicentenário.

Para ser perene, é necessário ter funções, manter os sonhos e ter dentro de si uma fogueira chamada vida

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