Nara Leão – A musa da canção brasileira moderna

Na semana passada escrevi que Maria Bethânia deixou a Bahia no final de 1964 e aterrissou no eixo Rio – São Paulo, justamente para substituir a também cantora Nara Leão no elenco do show “Opinião” num teatro de um shopping em Copacabana, Rio de Janeiro. “Opinião” foi a primeira manifestação artística que se tem noticia contra o Golpe cívico-militar brasileiro de março de 1964 e contava a história atual de três brasileiros: Zé Keti, compositor carioca habitantes dos morros; João do Valle, compositor vindo do sertão nordestino e Nara Leão, representante de uma classe média alta progressista da zona sul do Rio de Janeiro e que queria descobrir as mazelas sociais brasileira. Com problemas na voz, Nara Leão foi substituída, a pedido, indicou Maria Bethânia, que ela tinha conhecido pouco tempo atrás em Salvador, Bahia.

Mas quem foi Nara Leão? Nascida em 1942 Nara era uma garota que sempre viveu em Copacabana embora tenha nascida em Vitória Espirito Santo e morado um tempo em Cachoeiro de Itapemirim, Espirito Santo. Seu pai, Jairo Leão, alto funcionário federal sempre manteve boas relações com intelectuais da época: escritores, conquistas, jornalistas, poetas e reunia todo esse pessoal em seu amplo apartamento na avenida Atlântica, principalmente para o sagrado jogo de poker (Paulo Francis, famoso, era um assíduo frequentador de lá). Enquanto as conversas corriam soltas numa das salas, em outra, a filha Nara Leão recebia outros convidados para falarem sobre arte e música brasileira, principalmente: jovens futuros cineastas, jornalistas, compositores, dramaturgos, pintores, poetas e outros, de classe média (alta ou média), todos aspirantes a tornar o Brasil mais moderno.

Um dos convidados de Nara para as reuniões em seu apartamento era o compositor (e também cantor) Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o “Tom”, que já tinha feito obras primas com Vinicius de Moraes como “Se todos fossem iguais a você”, “A Felicidade” (tristeza não tem fim…) e “Eu sei que vou te amar”, entre outras que procurava um violonista (e se pudesse, também cantor) na busca de um novo ritmo brasileiro, uma nova “batida”, um novo som, mas que nunca quebrasse a raiz da música popular brasileira. E na casa de Nara, Jobim encontrou João Gilberto. Quem também frequentava a moradia dos Leão no edifício “Champs Elyseés”: Roberto Menescal (seu eterno amigo), Luizinho Eça, Carlinhos Lyra (um dos pioneiros da bossa nova), Ronaldo Bôscoli (namorado de Nara e depois casado com Elis Regina). O novo som era bossa nova. Lançada como cantora Nara só poderia cantar a nova bossa carioca e brasileira. Mas, em curto espaço de tempo, Nara Leão percebeu que o Brasil não era só Copacabana e Ipanema. Isto em 1963, e que seu país era ainda subdesenvolvido. Daí, deixou de cantar apenas “o amor, o sorriso e a flor” ou os “barquinhos da vida” e começou a entoar canções de protestos sociais. Seus dois primeiros LPs de 1964, denominados “Nara” e “Opinião de Nara” mostra um repertório eclético de melodias brasileiras cantando compositores como: “Tom” e Vinicius de Moraes, Chico Buarque de Holanda (uma das primeiras a gravá-lo), Edu Lobo e os até então esquecidos Cartola e Nelson Cavaquinho. Ela apoiou muito o movimento Tropicalista de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Casou-se com o cineasta Caca Diegues e em 1969 pressionada pelos militares, deixou o Brasil e foi para a França onde ficou muito tempo. Na volta, mostrando seu ecletismo musical gravou Roberto Carlos, Guarânias como “Meu primeiro amor” e sucessos da música norte-americana pré rock and roll. A escritora Danusa Leão era sua irmã. Nara faleceu em 07/06/1989 aos 47 anos devido a um tumor cerebral. Mas ainda está na memória de muitos brasileiros.

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