A poetisa Edna Silva, de 38 anos, é amante da leitura desde a infância, sendo o gênero poesia o qual mais a toca e a edifica. Nascida e criada em Itapetininga, Edna escreve poesias desde a adolescência já tendo publicado um livro, além disso, a poetisa participou recentemente de projetos em algumas escolas da cidade a fim de apresentar a poesia aos estudantes. Em entrevista ao Jornal Correio, ela nos contou o impacto que esse gênero literário teve em sua vida.
VM: De que maneira a poesia afetou a sua vida?
ES: A poesia afetou minha vida de forma indescritível, ela tem a força de me resgatar de muita melancolia, me mostrar o quão grande eu posso ser se tiver a capacidade de me escutar e escutar o outro, a poesia me fez vencer e lutar contra o preconceito sem partir para a violência, a poesia me levou a realizar meu sonho de poder me expressar e incentivar outros a fazer o mesmo.
VM: Quando surgiu seu interesse por poesia?
ES: Difícil definir ao certo quando a poesia se fixou na minha vida, com 13, 14 anos, tinha uma amiga chamada Márcia que pegava frases de músicas diversas para expressar o que ela sentia, e me desafiou a fazer o mesmo. Então eu comecei a me dedicar a ler mais o gênero poesia, cada autor que eu lia me fazia sentir algo diferente e eu anotava no papel, e assim foi surgindo algumas frases soltas, que só depois de dois ou três anos minha professora Luciana Prestes do ensino médio classificou como poesia.
Foi uma grande descoberta a mágica que existe dentro de cada verso, de cada palavra, de cada leitura, que podem expressar o sentimento de cada ser humano.
VM: O que te motivou a escrever poesias?
ES: “Eu canto porque o instante existe, e minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.” – Cecília Meireles
Um dos primeiros motivos que me impulsionaram a continuar a escrever poesia foi a participação em um concurso: II Prêmio Manoel Cerqueira Leite na cidade de Itapetininga no ano de 2001, foi uma das primeiras janelas que se abriram e eu pude mergulhar em um mundo que me proporcionava novas sensações e conhecimentos de mim mesma e dos em minha volta.
VM: Você já escreveu algum livro?
ES: Meu primeiro livro publicado chama-se “Leituras! Versos que abrem caminhos”. Em especial os poemas que compõe este livro nasceram durante encontros de Leituras compartilhadas que aconteceram na Biblioteca Municipal de Itapetininga, tais como: Clube do Livro, Leia Clássicos, Leia Mulheres e o Clube de Poesia mediado pela professora Maria Cecília Fontes Pereira.
VM: O que você diria para as pessoas que não conhecem a poesia?
ES: Para quem não conhece poesias deixo aqui versos do meu poema intitulado “Resgate”:
“[…] Abra bem seus ouvidos
Deixe-os desprotegido
Para que ela possa entrar.
E se ao final de cada verso
Nada em ti tiver mudado
Saibas que só por escutar até o fim
Um poeta tu acabas de salvar […]”
VM: Quais autores te influenciaram? E quais você mais gosta?
ES: Os autores que me influenciaram nem todos são poetas, como por exemplo: Jorge Amado, Zelia Gattai, Mauricio de Souza, Vinícius de Moraes, Manoel de Barros, Cora Coralina, Maria Firmina dos Reis, Carlos Drummond de Andrade e Thiago de Mello. Pedir para citar os que mais gosto é meio difícil, vou dizer dos que mais leio nos dias de hoje: Conceição Evaristo, Jarid Arras, Braúlio Bessa, João Gimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles, Marcio Fabiano, Evandro Aranha e Esaú Fiori.
VM: Qual a importância da poesia nas nossas vidas?
ES: A importância da poesia em nossas vidas, eu diria que a poesia são “versos que abrem caminhos” para dentro de nós mesmos, e se tornam pontes que nos levam ao próximo.
VM: Quais autores você indicaria para aqueles que desejam conhecer a poesia?
ES: Conceição Evaristo, Cora Coralina, Adélia Prado, Sérgio Vaz, Jarid Arraes e Mario Quintana
VM: Você já pensou ou deseja viver somente da poesia?
ES: Se eu desejo viver só de poesia? Poesia me move, porém não desejo que ela seja minha fonte de renda, desejo que ela seja sempre meu casulo, onde eu possa passar por uma metamorfose e ao me tornar uma borboleta livre para colorir e encantar a vida de outros mesmo que seja por pouco tempo.
Na Escola
VM: Como foi participar recentemente desses projetos em escolas apresentado um pouco da poesia aos estudantes?
ES: Realizar esse projeto de apresentar a poesia nas escolas tem sido uma experiência ímpar. É como colocar a mão em um formigueiro e ao invés de sair picado pelas formigas, é possível contempla-las colocando as folhas nas costas e transportando para outro lugar.
Acredito que há poesia em cada ser humano, mas cada um a manifesta de forma diferente, os que têm medo e não conhece a princípio se isolam, ou se rebelam, mas se expressam, e isso é o mais importante.
“Entrei em contato com ela este ano, mas conhecemos o trabalho dela no ano passado. A ideia era ela apresentar o trajeto até a publicação do livro. O projeto foi direcionado aos alunos do nono ano em parceria com o trabalho da professora Ruth de Língua Portuguesa, que já desenvolve a ‘gaiola literária’. Os alunos adoraram, foi muito dinâmico e eles ficaram super à vontade para participar da roda de conversa. É uma maneira diferente deles transmitirem o conhecimento com o colega, compartilhando as leituras que eles fazem, uma troca de ideias”, comentou Gilsemara Prestes, professora da Sala de Leitura da Escola Prof. Elisiário Martins de Mello – PEI
Grilhões da consciência
Quebram as correntes, mas aprisionam em suas opiniões
Assinam a lei da liberdade
Mas barram na sociedade
Os seios que alimentam
Os braços que constroem
As mãos que labutam
Sucumbem sua cultura
Impõem uma estrutura que ainda escraviza
Nesta data não se improvisa
O grito entalado na garganta ecoa…
A cor da minha pele não destoa, não elimina
Não contamina, não denomina e não impõe
A cor da minha pele em sua resiliência
Congrega alforria, reconhecimento
E igualdade social.
Edna Poetisa