Hoje e amanhã, os itapetininganos terão um bom motivo para sair de casa e ouvir bons intérpretes musicais. A partir das 20h30, a cantora Dani Fogaça, acompanhada por Edson Brisola e Mike Bass, estará no restaurante Árabe. Amanhã, no mesmo local e horário, será a vez de Paula Moraes, ao lado dos músicos da Banda Os Iludidos, soltar a voz. No mesmo dia, no teatro do SESI, às 20 h, o show fica por conta do violeiro Osni Ribeiro. O artista traz para Itapetininga o espetáculo “São Paulo Caipira”, que faz um recorte de canções da música caipira raiz, influências que o gênero recebeu e também movimentos musicais que beberam da mesma fonte.
Retorno – Considerada pelos amigos como uma das mais belas vozes de sua geração, a itapetiningana Dani Fogaça retorna as apresentações musicais depois de uma longa ausência de 20 anos. O convite partiu do amigo e músico Edson Brisola. “Resolvi retornar para a música, mesmo que timidamente, com raras apresentações, contudo, muito especiais, com um repertório voltado aos clássicos da MPB, que é pra matar a saudade das músicas boas que fizeram parte da minha geração”, explica.
A escolha do local para esse retorno não foi aleatória. “O Árabe sempre tem bons atrativos musicais. O Fuad, além de músico, é um grande apreciador e incentivador da cultura na cidade. Por isso topei retornar nesse espaço”, diz.
Dani Fogaça desde criança participava de um coral escolar dirigido por Rudy Rocha. Começou a frequentar as aulas de violão com dez anos de idade e seis anos depois já era professora de violão. Em 1997 começou a cantar na noite de Itapetininga e dois anos depois tornou-se vocalista da Banda Volúpia. Duas canções de sua autoria tocaram nas rádios da cidade, entre 1999 e 2000, estas músicas tiveram a participação do pianista Breno Ruiz. Em 2002, Dani mudou-se para Sorocaba para dedicar-se a graduação e resolveu dar uma pausa em sua carreira artística.
“Há vinte anos tinha muita demanda musical na cidade, apesar de poucos locais. Hoje, ao andar pela cidade, sinto falta de um chorinho, por exemplo. Está faltando mais diversidade musical na cidade”, comenta. Portanto, na apresentação de logo mais, Dani preparou um repertório com interpretes que marcaram sua geração, como Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Rita Lee. Além de visitar canções de outros grandes expoentes do nosso cenário musical como Djavan, Elis Regina, Zé Ramalho, Fábio Junior e Roberto Carlos.
Dani elogia “Rei Roberto”. “Acho ele o top dos tops. É um ótimo cantor, mas acima de tudo um grande poeta. Suas músicas conseguem transmitir vários sentimentos. Mexem bastante comigo. Não pretendo cantar suas canções, mas quem sabe, possa ter alguma canção dele durante a apresentação”, revela. “Gosto demais de músicas que levam uma mensagem. Por isso fiz uma seleção bem eclética e com ênfase em interpretes femininas”, conclui.
Os Iludidos – Amanhã, 25, às 20h30, no mesmo local, é a vez de um grupo muito querido dos frequentadores se apresentarem. Com estilos musicais variados e buscando sempre surpreender o púbico. “Buscamos trazer músicas que estão no inconsciente do nosso público e que marcaram gerações. Sempre comentamos nos shows que nossa banda desperta a memória das pessoas fazendo uma leitura musical muito particular”, esclarece a vocalista Paula Moraes.
Empolgada com a repercussão do trabalho da banda, a cantora comenta que eles estão com uma agenda “superapertada”. O trabalho vem ganhando bastante projeção no cenário musical da região. Um dos segredos, na sua opinião, é o profissionalismo como os integrantes encaram os shows. “Conduzimos nosso trabalho, de músicos da noite, com muita responsabilidade. Respeitamos muito o local que nos recebe e o público presente, criando uma inter-relação muito forte, magnética”, diz.
Extremamente comunicativa, Paula Moraes diz que começou a cantar muito cedo. “Acho que quando aprendi a falar, já cantei. Meu pai, Roldão, colocava uma cadeira no meio da sala e eu cantava, sempre adorei. Meu primeiro palco foi uma cadeira”, relembra. “As minhas brincadeiras sempre estavam ligadas a música. Com o jornal eu fazia o corpo de um microfone, embalando com papel laminado e com a lã de crochê, o fio. Pena que não guardei nenhum ‘microfone’ dessa época. Além disso, sempre me produzia utilizando roupas e maquiagens de minhas irmãs. Várias vezes a Dona Zezita, minha mãe que sempre me incentivou, costurava roupas brilhantes”, comenta.
A libriana Paula revela que suas primeiras influências musicais foram despertadas na sua antiga casa, em Guareí. “Meus irmãos ouviam Secos & Molhados, isso me marcou bastante. Meus pais me deixavam assistir os clipes que eram exibidos no Fantástico. Lembro de Maria Bethânia interpretando ‘Casinha Branca’, como me emocionei! ‘Luiza’, de Tom Jobim, trilha sonora de uma novela da TV Globo, foi meu ‘primeiro grande sucesso’”, ri.
Outra grande incentivadora de sua carreira artística foi Dona Zélia, diretora de uma escola em Guareí, que sempre a escalava para cantar nos eventos escolares. Na adolescência, ainda na cidade vizinha, montou uma banda. Depois, sempre vinha aos finais de semana para Itapetininga. “Comecei a fazer várias ‘canjas’ nas apresentações musicais da cidade e aos poucos fui ficando conhecida. Sempre tive fascínio por ser cantora de bandas de baile, essa vontade surgiu quando eu ainda era criança, quando meu irmão era da diretoria de um clube de Guareí. Eu sempre frequentava os bastidores dos shows”, relembra. Este desejo se realizou durante um curto período na sua carreira, entre 2011 e 2015.
A cantora faz questão de frisar que o grande salto em sua carreira profissional foi sua participação na banda de baile “Sr. Gaspar”, de Itapeva. “Aprendi muito. Foi para mim uma grande escola”, confessa.
Hoje ao lado dos competentes músicos André Moura, Cantídio do Amaral e Paulo Garcia revela ter se encontrado profissionalmente. “São músicos maravilhosos”, elogia. A banda Os Iludidos, nome que surgiu a partir de uma sugestão do guitarrista Paulo, prepara outras novidades em meio a uma agenda lotada. “Estamos preparando um trabalho somente com músicas autorais e preparando um show de 90 minutos com músicas marcantes escolhidas a dedo”, revela.
Osni Ribeiro no SESI – Amanhã, às 20h, no teatro da Vila Rio Branco, Osni Ribeiro estará acompanhado dos músicos Arnaldo Silva e Marcos Lopes. No repertório, clássicos inesquecíveis como “Tristeza do Jeca”, “Chalana”, “Cio da Terra” e “Casa no Campo”. A entrada é gratuita e a reserva pode ser feita pelo sistema MEU SESI. Os ingressos têm validade até 15 minutos antes da apresentação. Os ingressos remanescentes serão distribuídos 10 minutos antes do início do espetáculo.
Com exclusividade Osni Ribeiro conversou com a nossa reportagem.
1. A televisão, as novelas, sempre ocuparam papel importante para divulgação em massa de produtos, serviços, músicas…enfim, por muito tempo as novelas ditaram o que era tendência em diversos aspectos. Este ano, apesar dos serviços de streaming terem tomado conta do que as pessoas têm assistido, uma produção da Rede Globo ganhou a graça do público. O remake da novela Pantanal está na boca do povo. A presença da moda de viola, música raiz, é dominante na produção e voltou novamente o olhar para o gênero. Como vê esse movimento?
É intrigante esse entendimento né, ousaria dizer que no momento existe uma inversão de papéis nessa relação da “moda de viola” com a telinha. Na primeira versão de Pantanal a viola e a música caipira de raiz vinham num movimento de reconquista de espaço. Havia em tempos anteriores à versão de 1990 num certo ostracismo da viola e das raízes, deixadas de lado até por muitas duplas. Era um processo de tentativa de transformação de um gênero tradicional, que há décadas fazia sucesso no rádio e nas festas populares, em cultura de massa, de mercado.
Acontece que a tradição tem sua força e muitos personagens e artistas colaboraram para a manutenção e até mesmo uma evolução dessas raízes, dentro de suas características, seu DNA. Nesse momento, a primeira versão de Pantanal solidificou e muito esse movimento da viola e da raiz.
Ainda que o Pantanal não seja um universo de cultura caipira, a região, o MS tem uma cultura muito peculiar, fronteiriça, mas que dialoga com a gente, os caipiras, entrelaça e desperta sentimentos muito semelhantes.
Mas nessa nova edição, em meio à ascensão dos modelos de streaming, penso que a força da moda de viola, das culturas do campo, das relações simples e verdadeiras possa ter sido responsável pelo olhar das pessoas terem se voltado com mais frequência pra telinha.
Resumindo, em 1990 a novela ajudou demais o movimento de retomada da viola e agora em 2022 é a viola que retribui, atraindo olhares e ouvidos para a novela.
2. Como é se apresentar na terra de Teddy Vieira?
É sempre bom né. Teddy Vieira é dos maiores nomes da música caipira. Cada vez que vou pra “Itapê” é inevitável pensar que é a terra do Teddy Vieira e também do meu grande amigo Bob Vieira.
Já estive algumas vezes aí, a primeira vez na mesma época que passava a versão original de Pantanal (1990). Participei, claro que tocando moda de viola, do festival de MPB do Clube Venâncio Ayres.
Mais recentemente levamos o show Sobre Trilhos e Canções, eu e o companheiro Cláudio Lacerda, na “casa do Júlio Prestes”.
Na última oportunidade, pouco antes da quarentena, fiz uma abertura num show do Almir Sater. Veja só como os tempos e as pessoas também acabam se entrelaçando.
Muito feliz de estar de novo nessa cidade querida e importante pra nossa história.
3. Na sua visão, como músico e pesquisador da música caipira, hoje como é o cenário desse tipo de produção musical?
Sou mais curioso e observador do que propriamente pesquisador, mas faço minhas leituras à partir do meu jeito de olhar. É difícil de fazer um desenho preciso da nossa música caipira, a dinâmica é muito grande. Tentando resumir, é uma música que nasce da junção das violas portuguesas, essa nossa viola que chamamos caipira descende das violas de Portugal, com a rítimica do bater de pés e mãos dos indígenas.
Essas culturas musicais se misturam e na trajetória passam a receber outras influências, de outros povos que vão somando pra formação do nosso estado e do Brasil. Algumas influências são assimiladas, outras não encontram sustentação. Depois, com a força que o gênero adquire, a viola e a música caipira passam a influenciar e protagonizar outros gêneros musicais. A viola é um signo dessa música, por isso o termo moda de viola passou a generalizar a música caipira.
Basicamente é isso. Essa transformação constante. Também vejo na música caipira, conceitualmente, um DNA comprometido com registro dos acontecimentos cotidianos, com o tempo em que ela se insere, as pessoas comuns como personagens, a saudade, os afetos.
Para complementar, avalizado por essa leitura, penso a música caipira como a música produzida pelos caipiras, inclusive os contemporâneos, e não restrita à produção fonográfica de seus áureos tempos, então tem muita gente fazendo música que poderíamos definir como música caipira.
E essa música caipira que traz a etnografia do nosso entorno é diferente dessa música sertaneja de mercado que acaba sendo conduzida com muito menos dinâmica do que o movimento que o caipirismo de fato proporciona.
A internet, ainda que lentamente, colabora para mantermos essa diversidade da música caipira, da viola e das afinidades e diálogos das mesmas com outros estilos musicais.
4. Planos e projetos pro futuro.
Tivemos bastante tempo pra pensar em planos e projetos durante a pandemia né. De certa forma foi até bom. Deu tempo de repensar coisas e construir novas estradas e principalmente pontes, novas amizades, novas parcerias.
Recentemente lancei um novo álbum que já está disponível nas plataformas de streaming, Cantigas de Andar, um disco todo de canções com parceiros musicais de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Brasília, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul. Ainda estamos em processo de montagem de nova cantoria com o repertório do disco novo,
de meus outros álbuns e de outras músicas que se relacionam com a minha história.
Estamos também em processo de circulação com o São Paulo Caipira, montagem que tem base em muito do que falamos aqui sobre o meu trabalho de curioso, rsrs, e também com as últimas apresentações de show baseado no álbum anterior ao Cantigas, o Arredores (2018).
Um pouco mais pra frente espero publicar meu primeiro trabalho como instrumental de viola, que já tem até nome e repertório, o Rabiola.
E assim seguimos, tocando viola e sempre lembrando que o futuro está em cada dia que amanhece.