O carteado que imperava em salas da cidade

Conta-se – e por muitas pessoas – que em determinada ocasião apareceu em Itapetininga um cidadão de origem libanesa à procura de conhecidos seus a fim de que eles o auxiliassem com dinheiro, a ser destinado para exéquias do irmão falecido em São Paulo. Lenda ou não, o certo é que havia há décadas duas famílias provindas da capital paulista radicadas na cidade, residindo na rua José Bonifácio, próximo à sede da Associação Comercial. Dois irmãos, idade madura, bem vestidos, elegantes e atraentes; muito bem penteados e exalando fragrância dos melhores perfumes, se integraram a comunidade local e, sócios do clube Venâncio Ayres, formavam mesa com outros parceiros para o jogo de baralho.
Viviam praticamente à custa do carteado. Hoje, alguns lembram que os irmãos Libaneses durante anos “ganhavam todas as partidas conseguindo amealhar vultuosa quantia”. Como ninguém mais queria enfrentar os “turcos”, eles decidiram deixar a cidade.
Foi época em que, naturalmente, com a ausência de televisão, internet, celulares sofisticados ou outros entretenimentos, os jogos se constituíam em lazer e terapia, reunindo centenas de pessoas nos clubes da cidade, como Venâncio, Recreativo, Sociedade Italiana, Associação Atlética, 13 de maio, Aparecida FC, CASI, São Paulinho e Tração Club. Pessoas das mais diversas categorias sociais, à noite, ou mesmo em pleno dia, dedicavam-se a jogar não só o pôquer, como canastra, buraco, biriba, Pif-Paf, bridge, bacará, ronda, paciência e o famoso Truco, não só nas salas dos clubes, como em residências particulares ou em reservados de bares. Do Truco, ainda ressoam os gritos do saudoso Calil Yared na rua José Bonifácio, em salão pertencente ao Recreativo, gritando em voz altissonante quando “tinha em mãos boas cartas para vencer”. Tomou-se o mais popular dos jogos de carta.
Os sinais dados à socapa, as pilhérias e bravatas até mesmo o tumulto e os gritos estridentes constituíam a pragmática do jogo. Enquanto em outras entidades os jogos eram balizados em apostas baixas, no “Venâncio”, com quinze mesas, situadas próximas a entrada principal, o jogo sinalizava-se por altas apostas, com a presença de jogadores de outros municípios e da capital paulista. Consta que Caio Dias Batista, então Secretário Estadual de Transportes, quando viajava de trem em inspeção no trecho da Sorocabana, quando passava por Itapetininga mandava parar a locomotiva, dirigindo-se ao Venâncio para jogar e só prosseguia viagem ao termino das partidas que disputava.
Relata um velho jogador, que não quis se identificar, que o carteado “proporcionou algumas fortunas na cidade e arruinou muitas pessoas”, acrescentando que na década de 1940, o Clube tinha uma arrecadação bem maior que a Prefeitura da época e as “fichas eram moedas correntes, aceitas por qualquer estabelecimento comercial”.
Apesar de disputas acirradas e mesmo tensas, não havia qualquer espécie de desentendimento entre os litigantes, “reinando sempre um clima de tranquilidade e cordialidade”, como afirma uma testemunha da época. Ele não esquece de todas as noites, depois das 22 horas, o jornaleiro Roque Albino carregando periódicos diários de São Paulo e Rio de Janeiro, adentrava a sala de jogos e vendia os jornais, “O Estado de São Paulo”, “Diário de São Paulo”, Jornal do Brasil, o “Globo” e o “Jornal”, todos do Rio de Janeiro, aos que se encontravam presentes. Havia os cacifeiros Edmur, Moucachen, Miguel Nogueira, Jonas, José Pedro, Paulino de Lima, Ary Codorna, Chico Terra, Lélo, Jurandir Justino, Lauro e outros, que zelavam pelos jogadores, atendendo-os nos mínimos pedidos.
Nos clubes formavam-se grupos de admiradores do carteado, destacando-se Benedito Tambelli, Plínio Ribeiro, Olímpio Mariano, Paulo Ozi, Enrico Aires Martins, Humberto Pellegrini, José de Angeli, Alexandre Chauar, Said José, Floriano e Benjamin de Paula Ferreira, Bimbo, Schaim Chatan, Nelson Ferraz, Juraci Galvão, Fernando Prestes destacando-se algumas mulheres que reuniam-se alternadamente em suas residências “divertindo-se com as cartas”.

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