Agora, troféus lembram saga do tropeiro

Impossível falar dos intrépidos tropeiros sem mencionar o arrojado e aventureiro Aparício Ruivo, cavalgando o seu corcel e conduzindo tropa, sob a amplidão do céu que ecoava o vento do fim da tarde.
Esse Itaraeense, criança, passou a residir em Itapetininga, desde pequena idade acompanhava os irmãos, todos tropeiros na profissão de condutor de animais de carga. E a lida se estendia por toda região sudoeste, ampliando o mercado significativamente desse comércio, na época e desenvolvendo cidades como Sorocaba, Tietê, Capivari e, naturalmente, Itapetininga.
Foi em 1922, Semana da Arte Moderna, que Aparício Ruivo, garboso cavaleiro e também domador de primeira grandeza conheceu a jovem paraguaia Nescêmia Huerta (d. Lota). Ela encontrava-se refugiada nesta Itapetininga juntamente com os irmãos Victorino, Emilio, Santiago e suas irmãs Alejjandra, Paulina, Barbarita, conhecidos por toda a população local como “as paraguaias costureiras”. A família, recém-chegada do país vizinho foi carinhosamente recebida pela grei Araújo, que, solidarizando-se com os imigrantes, facilitou a sua integração nos hábitos e costumes do povo itapetiningano. Os jovens Aparício e Lota se conheceram e contraíram núpcias, após cuidadoso namoro, passando a residir na agradável casa situada entre a Cel. Afonso e João Evangelista, posteriormente ocupada pelo professor Eliziário Martins de Mello.
A grande família Huerta Ruivo constituía-se dos filhos Edivaldo, Edith, Elidez, Evandro, Eneid e Hélia, sempre sob a proteção do casal, em constante trabalho e dedicação. Aparício, persistente em sua corajosa lida, viajava no lombo de um bom animal com sua comitiva a puxar uma ponta da tropa, vendendo, comprando, barganhando, aventurando-se nas estradas de terra, pousando em ranchos, casebres, galpões a beira dos caminhos, improvisando a comida nas rústicas trempes e utensílios “acomodados no picuá colocados no lombo do burro carregador”. Tudo isso, além do desafio do perigo, as intempéries do tempo, cenário do tropeirismo que se alastrava entre os Estados de Minas (triangulo mineiro), Rio Grande do Sul, numa variedade de pontos estratégicos de acordo com os contatos estabelecidos entre os tropeiros, para comerciarem a sua mercadoria.
Nessa movimentação, encontrava-se sempre presente o animado Aparício. Viagens longas e demoradas, cansativas, arrastando-se por longos meses, dependendo das negociações, mesmo assim não sendo obstáculo para Aparício e sua “peonada”.
Ao mesmo tempo, D. Lôta, a paraguaia, cuidava dos afazeres caseiros, acolhendo moças estudantes de cidades vizinhas, que somadas aos seus filhos proporcionavam alegria intensa na residência. Sem falar na recepção que oferecia aos tropeiros procedentes de outras praças e mesmo de Estados diferentes para fins comerciais. Não faltavam, na ocasião, a cortesia fidalga de Aparício e d. Lota, o café de pilão, o chimarrão, almoço ou jantar, em clima que geralmente coroava o sucesso dos negócios concluídos pelo velho e conhecido Aparício.
Em uma de suas últimas viagens, Santo Ângelo, Rio Grande, Aparício efetuou uma compra de 1.000 cabeças de muares do gaúcho Francisco Sperotto, que sempre vinha a Itapetininga hospedando-se no antigo Hotel Roma, da Rua Saldanha Marinho. Essa grande porção de animais veio por terra, demorando seis meses, tendo como capataz Lázaro Cirineu, conhecido como Lazinho, filho adotivo do casal, que, além de domador, destacava-se como madrinheiro, cozinheiro e “mão para toda obra”, contando sempre com o carinho e afeto da família Ruivo.
A longa vida do tropeiro Aparício foi marcada pela coragem, serenidade, hombridade, fé e determinação e sobretudo honestidade, onde os negócios se firmavam apenas na palavra do homem. Faleceu Aparício Ruivo há muitos anos, e hoje, os pelegos, esportes guaiaca, berrante, chapéu e outros objetos são considerados troféus e encontram-se expostos nas casas de filhos e netos, atestando o trabalho de um tropeiro, que com outros, contribuiu para a elevação progressiva no país.

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