Com o lema “Se precisar, peça ajuda!”, a campanha Setembro Amarelo de 2024 está mobilizando o Brasil na luta contra o suicídio, um dos maiores desafios de saúde pública no mundo, segundo especialistas. Lançada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a iniciativa busca conscientizar a sociedade sobre a importância de falar abertamente sobre questões de saúde mental e incentivar a busca por ajuda em momentos de crise.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios anualmente. No Brasil, o número chega a aproximadamente 14 mil casos por ano, o que corresponde a cerca de 38 suicídios por dia.
Após a pandemia de COVID-19, houve um aumento expressivo na procura por atendimentos psicológicos e psiquiátricos no Brasil. No entanto, o preconceito em torno das questões de saúde mental ainda persiste, muitas vezes de forma velada. A psicóloga Cássia Matarazzo suicidóloga e voluntária em projetos de prevenção, explica que mitos profundamente enraizados, como “homem não chora, não pode pedir ajuda” e “psiquiatra é coisa de louco”, contribuem para a crítica negativa àqueles que buscam serviços de atenção psicossocial, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
O Brasil é o país com a maior taxa de depressão da América Latina e o segundo das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2022). Além disso, os índices de suicídio, tentativas e automutilação, especialmente entre jovens e adolescentes, são alarmantes. “É essencial quebrarmos os tabus e preconceitos sobre as questões de saúde mental, visto que elas afetam toda a sociedade”, alerta a psicóloga.
Ela reforça que o lema da campanha, “Se precisar, peça ajuda!”, reflete a necessidade urgente de que as pessoas se cuidem mais e melhor, e de que se desenvolvam políticas públicas mais efetivas para ampliar o acesso a serviços de qualidade. “O lema destaca que devemos buscar ajuda, pois não estamos sozinhos ou não deveríamos estar. Precisamos de uma rede de apoio, que inclui bons profissionais e pessoas dispostas a ouvir sem julgamento”, afirma.
Para aqueles que precisam de apoio, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece um serviço gratuito e confidencial de apoio emocional. O CVV está disponível 24 horas por dia pelo telefone 188, e também através do site, onde é possível conversar por chat ou enviar um e-mail.
Sobre os sinais de alerta que familiares e amigos devem observar, a psicóloga explica que nem todos aqueles que tiraram a própria vida deram sinais claros. “Contudo, é importante estar atento a mudanças de comportamento, como isolamento social, comentários sobre desejo de morte, mudanças nos hábitos de sono ou alimentares, falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas, mudanças de humor abruptas e comportamentos de despedida”, orienta. Ela ressalta a importância de oferecer uma escuta ativa e acolhedora, além de buscar ajuda profissional imediatamente.
Para superar o estigma associado à busca de ajuda psicológica, Matarazzo acredita que campanhas como o Setembro Amarelo são fundamentais, mas enfatiza que a saúde mental deve ser uma pauta constante ao longo do ano. “Precisamos entender que, assim como buscamos ajuda médica quando algo em nosso corpo está errado, devemos fazer o mesmo com a nossa mente. As crises são momentos de dor, mas também de aprendizado, essenciais para nosso amadurecimento. A avaliação de um profissional é crucial para superar essas fases da forma mais positiva possível”, conclui.