A combinação da seca prolongada, falta de chuvas e queimadas tem causado um impacto significativo nos preços dos alimentos no Brasil. Com o agronegócio sendo afetado, os consumidores enfrentam altas expressivas nos valores de itens essenciais, como arroz, feijão, carne e café. Essa crise climática tem gerado preocupações sobre a capacidade de abastecimento e os efeitos no custo de vida das famílias brasileiras.
De acordo com dados do mês de julho, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita de commodities em 2024 poderia aliviar parte dessa pressão, especialmente em produtos de consumo básico. A maior oferta de itens como arroz e feijão tende a estabilizar os preços, tornando-os mais acessíveis ao consumidor. No entanto, apesar de o Brasil esperar uma produção de grãos de 299,27 milhões de toneladas, um dos maiores volumes já colhidos, a safra sofreu uma queda de 6,4% em relação ao ano anterior, principalmente devido à influência negativa do fenômeno El Niño. A quebra na produção comprometeu a disponibilidade de alimentos, o que se reflete nos preços do mercado.
Essa redução tem impacto direto nos setores de proteínas animais, como carne, leite e ovos. Produtos como soja e milho, amplamente utilizados na alimentação de animais, tiveram uma queda significativa na colheita, o que eleva o custo de produção de carnes. A produção de soja, estimada em 147,34 milhões de toneladas, apresenta uma redução de 4,7%, pressionando ainda mais o mercado internacional, dado o peso da soja como commodity exportadora.
Além disso, queimadas e a seca intensa também prejudicam lavouras e pastagens. Essas condições afetam diretamente a produção de alimentos, como laranjas, hortaliças e derivados do leite, elevando ainda mais os preços nos supermercados. O café, por exemplo, registrou um aumento expressivo no valor da saca de 60 kg, passando de R$ 1.407,69 para R$ 1.4
92 em pouco mais de um mês. Esse salto impacta tanto o mercado interno quanto o externo, já que o Brasil é o maior produtor mundial.
As dificuldades climáticas também afetam o setor energético. Com a falta de chuvas, a geração de energia hidrelétrica se torna mais cara, pressionando as contas de luz. O aumento do uso de ar-condicionado e ventiladores, impulsionado pelas altas temperaturas, também eleva o consumo de energia, agravando a situação. A retomada da cobrança da bandeira vermelha em setembro adiciona mais custos, gerando um acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 kWh consumidos.
Especialistas alertam que essa combinação de fatores climáticos pode manter a inflação elevada, especialmente para as famílias de baixa renda. O economista Raphael Góes ressalta que a seca prolongada e as queimadas elevam os custos da cadeia produtiva, que são repassados ao consumidor. O cenário é preocupante não apenas para a população, mas também para pequenos negócios, que enfrentam dificuldades para manter suas operações com os custos elevados de produção e energia.