O escritor e professor de Língua Portuguesa, Fiori Esaú Ferrari, acaba de lançar sua mais recente obra, “O Coração do Deserto é Azul”. O livro, publicado pela editora Litteralux, reúne uma série de poemas que relatam temas como a solidão, a segregação e as fronteiras impostas pela sociedade. Ferrari, que se dedica à poesia mesmo em meio à rotina exaustiva de educador, encontra na escrita uma forma de resistência ao embrutecimento social.
Ferrari compartilha que sua trajetória é marcada por Itapetininga, cidade onde nasceu e que moldou sua visão de mundo. “Itapetininga sempre será o cimento do que digo, das pessoas que me formaram e que me contaram jeitos de dizer o mundo, da saudade e do envelhecer”, conta. Essas influências aparecem em seus poemas como uma junção entre a experiência pessoal e a crítica social.
A pandemia foi um período de produção intensa para o autor, que encontrou na escrita uma maneira de lidar com o isolamento. “Escrever é descobrir”, afirma, ressaltando que muitos de seus poemas foram escritos nesse período. Ele também aborda temas universais, como a perseguição política e o ódio direcionado a grupos marginalizados, com reflexões à realidade do Brasil e do mundo.
Um dos destaques do livro é o poema “Pequena Antologia do Amor”, descrito por Ferrari como o “coração” da obra. O poema presta homenagem a escritores que marcaram seu início, mantendo um padrão formal que segundo o autor, contrasta com o estilo livre predominante em suas outras criações. “Esse poema é uma constatação de que o entendimento sobre as coisas da escrita é um campo complexo, onde a racionalidade muitas vezes cede espaço a outras formas de percepção”, explica.
Para Fiori, a poesia carrega uma função que vai além da estética: ela deve, acima de tudo, promover a humanização. “Se a poesia não nos comove, então de nada vale a experiência”. Ele reflete sobre a relação entre a poesia e os sistemas de poder, destacando que a arte pode ser tanto uma ferramenta de resistência quanto de opressão, dependendo do contexto. “Há poetas que serviram ao fascismo e ao nazismo. A questão é complexa”, comenta.
Inclusive, a relação entre poesia e resistência é um tema central em “O Coração do Deserto é Azul”. A obra relata como movimentos culturais periféricos, como os slams de poesia falada, se tornaram espaços de resistência e criação. “Toda quinta-feira, ao lado da estação Ana Rosa, em São Paulo, jovens se reúnem para fazer rimas. Na violência urbana, no descaso com seus territórios, essas pessoas estão cantando. E isso não é pouca coisa”, diz o autor.
Ao refletir sobre o impacto da poesia, o professor enfatiza que um poema só é verdadeiramente impactante quando rompe com a dominação e a colonização da mente. Para ele, um poema não deve ter fronteiras e deve dialogar com o outro de maneira profunda e humana. “Poemas que calam outros poemas não são poesia, são instrumentos de dominação”.
Com uma obra repleta de simbolismos e reflexões, Fiori desafia o leitor a repensar a função da poesia no mundo, enquanto homenageia a tradição literária e suas raízes pessoais. “Publicar livros no Brasil é um ato de extrema coragem”, conclui o autor, agradecendo o apoio contínuo em seus trabalhos.
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