Milton Cardoso
Especial para o Jornal Correio de Itapetininga
Há 40 anos, no dia 16 de outubro, acontecia a estreia de “O Milagre de Annie Sullivan” na Igreja de Nossa Senhora das Estrelas. A montagem teatral assinada por Margha Bloes era formada por um jovem elenco, na maioria de estudantes do ensino médio, tendo como protagonistas Márcia Maria de Almeida Paula, interpretando a professora Sullivan, e Maria José Ruivo, na época com 13 anos de idade, desempenhando o desafiador personagem de Hellen Keller.
Escrita pelo autor estadunidense William Gibson, a peça foi inspirada na história verídica de uma menina cega e surda, Hellen, nascida no Alabama. Quando tinha 7 anos de idade, a família contrata a jovem professora Anne Sullivan. Após um início difícil, marcado por diversos conflitos com a menina e a sua família, a tenacidade da professora foi essencial para o seu êxito. Sullivan estimula Hellen a utilizar o tato como conexão entre ela e o mundo. “Penetrava, assim, nos mistérios das palavras, nos segredos da linguagem”, explica o programa da peça.
Depois da estreia, a montagem itapetiningana realizou uma temporada no mesmo local com sessões lotadas. “Essa encenação foi praticamente impecável no tocante a todos os aspectos da arte teatral, como os figurinos, os cenários, a movimentação dos atores, os próprios atores, a parte técnica, com iluminação e trilha sonora, e a própria direção, que muito contribuiu para o sucesso do espetáculo, inclusive com divulgação pelo Jornal Nacional da Globo”, relembra José Luiz Ayres Holtz, o Grilo.
Holtz salienta que a encenação reverberou o trabalho desenvolvido por Cecília Pimentel Vasques Prestes Nogueira, professora da classe especial (denominação da época) da escola Fernando Prestes, “maior incentivadora da concretização desse projeto”. O autor de “Da Cruz do Negro ao Brilho das Estrelas” recorda que a atuação de Maria José Ruivo, aluna da educadora Cecília Pimentel, “se tornou o aspecto mais impactante da encenação” e emocionou “toda a cidade, independente de classe social, escolaridade ou profissão”.
“Duas mulheres de luta: uma para a inclusão social dos deficientes auditivos e outra para superar as barreiras de sua deficiência. Ambas saíram vitoriosas. Esses dois estímulos à alma humana foram marcas indeléveis na consciência de todos que assistiram a essa apresentação. Não há quem esqueça a cena da água e o sublime milagre do grito de Hellen Keller: ÁÁÁgua!!!!”, diz.
Atividades Culturais no CASCEI
De forma solene, também no dia 16 de outubro de 1984, o Departamento Cultural do C.A.S.C.E.I (Conjunto Assistencial Sociocultural das Estrelas em Itapetininga) da Igreja de Nossa Senhora das Estrelas foi inaugurado. Porém, o espaço vinha abrigando uma intensa programação cultural a mais de uma década. “Era uma porta aberta para a cultura, em especial nos segmentos música e teatro. Foram apresentações de destaque no caso do teatro, de pequenas peças montados pela COMJOVENS (Comunidade dos Jovens), como a história do mártir Maximiliano Maria Kolbe”, explica Holtz.
Na área teatral, entre os vários trabalhos apresentados, destacou-se “O Poder do Cifrão”, escrito pelo padre João Bloes Netto. Em 1975, o espetáculo profissional “A Sétima Morada”, que narra a vida de Santa Theresa d’Ávila, apresentou-se na nave ainda inacabada da igreja.
Essa apresentação gerou grande expectativa nos itapetininganos devido à presença de artistas conhecidos na época, como Célia Helena, Carlos Augusto Strazzer, Liana Duval, Kito Junqueira e Reny de Oliveira, que viveu Hellen Keller na histórica montagem de 1967. “A Sétima Morada” não havia sido bem recebida pela crítica paulistana e, por isso, a produção decidiu levar a peça às igrejas.
Mas, sem dúvida, o espetáculo memorável do espaço foi o “Milagre de Anne Sullivan”, até hoje guardado com carinho nos corações e nas mentes itapetininganas.
Depoimento – Ivan Barsanti
“O Milagre de Anne Sullivan” aconteceu em outubro de 1984. Durante uma semana deste mês a professora Maria Margarida Bloes, a Margha, professora de Língua Portuguesa da rede estadual paulista apresentou esse com seus atores itapetininganos, todos amadores, no palco improvisado da Igreja Nossa Senhora das Estrelas uma famosa peça norte-americana cujo nome é o título deste breve comentário. O roteiro é baseado no fato real. Anne Sullivan é especialista no tratamento de crianças e jovens surdas e tem uma missão a cumprir com uma adolescente que possuía tal deficiência, a pedido dos pais da moça. E o trabalho de Anne é insano. E da diretora itapetiningana Margha Bloes também é. Ensaios e mais ensaios. E para desenvolver mais realidade escolheu a encenação escolheu uma aluna da professora Cecília Pimentel, formada no Rio de Janeiro em Educação dos Deficientes e com uma classe especial na Escola Estadual “Fernando Prestes” daqui. Ensaios e mais ensaios. E o temor de Margha era como o espectador itapetiningano iria receber a dramatização (pois era um drama) pois a encenação era forte. Na estreia quando as cortinas se abrem um silêncio total na plateia. Voltemos um pouco ao passado. Geralmente as peças encenadas (quase sempre no Cine São José) eram comédias, sempre com um tom romântico apresentada por Olívia e Humberto Pellegrini, Ayres de Souza, entre outros, com Maria de Souza como estrela!
Quando as cortinas se fecharam em Anne Sullivan acontece um choque entre os presentes na plateia. Mas um choque cultural, um delírio de aplausos, uma ovação, muita gente chorando. A emoção foi muito forte. E a estreia chegou até a TV Globo, tanto que na véspera do “Dia do Professor” (15 de outubro de 1984), o “Jornal Nacional” como vocês sabem com milhões e milhões telespectadores, fechou a sua programação discorrendo sobre a peça, o elenco itapetiningano e uma entrevista com Cecília Pimentel, do “Fernando Prestes”, sobre tais problemas. O “Jornal Nacional” da TV Globo homenageou os professores brasileiros através de uma arte cênica itapetiningana.
Glórias a Cecília, Margha e elenco do “O Milagre de Anne Sullivan”.
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