Não uso o substantivo cachorro na acepção ofensiva, mas como nome de um animal mamífero, domesticável, amigo e companheiro do homem. Há cachorros famosos, como o quincas, do Quincas Borba. Era tão amigo, tão companheiro que recebeu o nome do dono. Quem o deixou famoso não foi o Quincas Borba, porém o Machado, que não era instrumento de trabalho, mas o escritor Machado de Assis, aliás o seu nome completo era: Joaquim Maria Machado de Assis. Quincas Borba virou nome de livro e obra prima do escritor, fundador da Academia Brasileira de Letras. Ensinar é preciso.
Há cachorros que se tornaram cães e que foram amados, acariciados, beijados por meninas bonitas e cheias de charme. Já senti, quando tinha dezoito anos, o desejo de ser um cãozinho para ser cheirado, acariciado e beijado pela Laurinha, que era minha vizinha. Como ela gostava do Pituquinha! Conheci, também, a D. Miroca. O feminino de cachorro é cachorra e de cão e cadela, mas os homens ímpios transformaram a forma feminina desses dois substantivos, num palavrão. D. Miroca que o diga. Ah! Ela já morreu! Como ela sofreu! A maledicência é condenada pela Bíblia. Paulo, o apóstolo, adverte: “ Não erreis, nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores, herdarão o reino de Deus. ” (I Cor. 6:10)
Como os substantivos são variáveis! São variáveis em número, gênero, grau e até em significação. Cheguei uma vez na escola e um colega me advertiu: “Não entre na diretoria. ” Quis saber o motivo e ele me disse, colocando a mão na boca em forma de cunha: “O chefe está com a cachorra. ” Certo dia, no início de ano, um menino, sabendo que eu era Pastor Presbiteriano, chegou perto de mim e, com um risinho zombeteiro e irônico, disse: “Professor, eu tenho em casa um cachorro pastor alemão. ” Não perdi o “rebolado”, como se dizia na época, e disse, com um sorriso largo de satisfação, sacudindo a cabeça para cima e para baixo: “Eu tenho um são Bernardo. ” Se são Bernardo pudesse me ouvir, eu pediria perdão, mas coitado, já morreu e os mortos não podem ouvir os vivos. (Ecles. 9:5 e Is. 8:19)) O menino riu e eu também e ficou por isso mesmo. As crianças não guardam rancor. Foi uma troca de figurinhas.
Escrevi tudo isso, recordando o passado, pois no presente sou um defensor dos animais. Salomão, o terceiro rei de Israel, filho de Davi, o salmista, escreveu vários provérbios. A Bíblia afirma que quando Salomão assumiu o governo, ele orou a Deus e pediu sabedoria para governar. O Eterno gostou tanto de sua oração que lhe deu muita inteligência e fez dele o homem mais sábio. (I Reis 4:29) O filho de Davi escreveu três mil provérbios e foram os seus cânticos mil e cinco. Eis um provérbio do terceiro rei de Israel que precisa ser decorado e divulgado por todos os meios de comunicação: “O justo olha pela vida dos seus animais, mas as misericórdias dos ímpios são cruéis. ” Esse olhar que Salomão se refere é cuidar, dar água, dar comida e até dar carinhos, mas sem exageros, pois se você, que me lê, for mulher e bonitinha, pode causar ciúmes e invejas. (Prov. 12:10) Laurinha, não seja causadora de ciúmes e invejas. Tanto o ciúme como a inveja são pecados. Não os provoque.