Rodolfo Costa e Silva Funcionário da SABESP aposentado, um dos criadores da tarifa
social, Ex-Deputado Estadual, Engenheiro Sanitarista
Triste castigo o carioca Tarcísio de Freitas está impondo ao nosso povo do interior do Estado de São Paulo. Talvez o maior castigo que se possa desejar para nossa gente. O retorno à escravidão. Não à escravidão hedionda, por cor de pele, como no passado. Será uma escravidão diferente, sanitária, muito menos violenta, mas humilhante.
Estou me referindo ao processo extremamente danoso, para o povo do interior, que será a privatização da SABESP, empresa do povo paulista, com 50 anos, que agora terá banqueiros, empresários e até negociantes no seu comando, só pensando em lucros, o que é muito natural.
Muitos sabem, talvez não todos, que a grande maioria dos municípios do interior não gera lucros para a SABESP, muito pelo contrário, gera prejuízo, mormente, os pequenos e médios. Isto mesmo, estou falando de todos os municípios das regiões de Itapetininga, alto Ribeira e Vale do Ribeira. Então, por que a SABESP cuida destes municípios deficitários? Porque é uma empresa do Governo Estadual que foi criada para cuidar da saúde da população. O lucro vem em segundo lugar. Agora, tudo mudará, pois ela buscará dar lucros e dividendos máximos para banqueiros e empresários, e muitos deles, não são nem brasileiros. Inadmissível!
Se isto é uma verdade sabida, qual será o interesse da SABESP privada nos municípios do interior? Nenhum. Isto mesmo, nenhum. Se Capão Bonito, ou outro município qualquer da região, sair da SABESP, o lucro dos banqueiros vai aumentar. E se 100 municípios saírem? O lucro dos banqueiros vai aumentar, grosso modo, muito mais. Nossos municípios, que são orgulho da nossa SABESP, passarão a ser indesejáveis, rejeitos, rebotalhos para os bancos. É por isso que os municípios são reféns da privatização. Quem não aceitar será cuspido. Tenebroso!
Hoje, a cobrança por 10m3 de consumo por mês de água e esgoto, na região, está próxima de 70 reais. Se ela passar para 140 reais, que é o preço da conta da empresa privada do Rio de Janeiro, os prefeitos e vereadores da região vão fazer o quê? Nada, absolutamente, nada. Eles não terão nenhuma força. Com a SABESP pública, eles têm peso político, procuram seus representantes, discutem com o governador que estiver governando, ou desgovernando. Sempre foi assim. Hoje, eles podem evitar o desastre, mas são omissos. Depois vão discutir com banqueiros franceses, americanos ou chineses? Ridículo! Eles não terão voz na exploração que a região vai sofrer. É um desastre anunciado que os politiqueiros estão fingindo não ver. Exploração!
Sobraria uma única saída, municipalizar o saneamento. Já contaram para vocês, o tamanho da dívida que os municípios terão de pagar? Perguntem aos políticos da região. Vejam se eles sabem. De todo modo, eu não disse que os municípios dão prejuízo para a SABESP? Então, os banqueiros podem até ajudar os municípios a irem embora, pagando a dívida em suaves prestações. Isto é obvio.
Qual será o resultado da municipalização? O sucateamento dos sistemas dos municípios do interior, que não terão recursos para garantir sua operação e manutenção, muito menos recursos para modernizar os sistemas de saneamento existentes, ou seja, rombos terríveis nas contas municipais. Então, temos duas alternativas: aceitar pagar o dobro da conta, ou sucatear a saúde pública. Os danos para o comércio e a indústria serão gigantescos e a população carente, que paga a tarifa social, será esmagada. Condenação ao atraso!
Dirão uns tolos que os municípios terão assento na URAE. (“Unidade Regional de Serviços de Água e Esgotos”). Nesta entidade regional fantoche, o Estado tem 37% dos votos e a capital tem 19%. Então, o Estado e a capital decidem tudo e os demais municípios chupam o dedo. Humilhação!
Concluindo: 1- Os municípios não terão condições de controlar uma empresa comandada pelo lucro e, muito provavelmente, em mãos de estrangeiros. 2- O governador não terá mais responsabilidade sobre a empresa, pois a sua razão de existir é o lucro. 3- Os municípios, se não forem expulsos da empresa, não poderão sair, pois isto seria um desastre sanitário e um desastre para o seu desenvolvimento econômico, ou seja, serão reféns e devem aceitar qualquer tarifa abusiva e péssimos serviços. O que é isto, senão, a escravidão sanitária? Os políticos estão escravizando o povo do interior de São Paulo. Quando este desastre chegar, não vamos achar ninguém para responsabilizar. Vão todos se esconder na poeira da história. É sempre assim. Enquanto isto, um monte de gente vai ganhando dinheiro às custas do povo simples do interior. São Paulo, um Estado poderoso com seu povo do interior tratado com menoscabo.
Por fim, já aviso que não sou candidato a nada. Este texto é apenas um desabafo e um aviso a muita gente que acreditou em mim, e por respeito aos meus mais de 40 anos trabalhando como engenheiro sanitarista. São Paulo, você não merece isso.