Chega aos cinemas o novo filme de Batman, um dos personagens da cultura pop mais fascinantes de todos os tempos
“The Batman” é o novo filme de super-heróis que estreia hoje nas salas de cinema. Alguns espectadores podem até torcer o nariz em relação ao reinado desse gênero cinematográfico, porém é fato que Hollywood, quase sempre, só aposta em filmes que gerem lucros e que, atualmente, lhe possam render franquias milionárias. Portanto, o novo filme do Homem-Morcego dirigido por Matt Reeves (“Planeta dos Macacos: a Guerra” e “Planeta dos Macacos: o Confronto”) provavelmente irá iniciar uma nova trilogia. Desta vez, coube ao ator Robert Pattinson (“Crepúsculo”) viver o milionário Bruce Wayne e seu alter ego. A crítica especializada vem considerando esse filme como o melhor de todos sobre o personagem.
O longa-metragem, escrito por Reeves em coparceira com Mattson Tomlin, acompanha o segundo ano de Bruce Wayne como Batman. Na versão de Reeves, o vigilante solitário da fictícia Gotham City vem causando medo nos criminosos, mas ele está aprendendo a ser um herói, tentando entender de fato quem é. Inseguro, ele perde várias vezes o controle, tornando-se brutal, perturbado.
Seus únicos parceiros nessa sua cruzada contra o crime e a corrupção da cidade, são o mordomo Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o tenente Jim Gordon (Jeffrey Wright). Durante uma de suas investigações, numa trama intrincada, Bruce/Batman acaba se envolvendo em um jogo de pistas enigmáticas e maquinações sádicas que o leva ao submundo de Gotham, onde ele encontra personagens icônicos como a Mulher-Gato (Zoë Kravitz), o bonachão Pinguim (Colin Farrell), o mafioso Carmine Falcone (John Turturro) e Charada (Paul Dano). O perturbador Charada de Dano não lembra em nada as versões de Frank Gorshin (da famosa série de 1966) ou de Jim Carrey (de 1995). Em entrevista a Total Film, o diretor declarou que ele “não é apenas um serial killer. Ele definitivamente tem uma agenda política. Há um aspecto terrorista nele. Ele está indiciando a cidade pelo que é”, explicou. A performance dos vilões é outro ponto forte do filme segundo a crítica.
O longa de três horas de duração evidencia uma habilidade muito cultuada pelos fãs do herói: sua capacidade detetivesca enfatizando sua alcunha de “Maior Detetive do Mundo”. Na tentativa de resolver impedir os vários assassinatos na high-society da cidade e desvendar as pistas e recados deixados pelo Charada, Batman vai desvendando uma série de corrupções que desmascaram Gotham, inclusive fatos que envolvem a família Wayne. Ao mergulhar numa trama cheia de reviravoltas, procura fazer justiça ao abuso de poder e à corrupção que há muito tempo assola Gotham, uma cidade realista, sombria, violenta e com altos índices de criminalidade, que almeja dias melhores mas que se alimenta da mentira.
“The Batman” além de ter boas interpretações e uma história cativante, vem sendo elogiado pelos aspectos técnicos. A trilha sonora de terror e suspense criada por Michael Giacchino envolve o espectador. Giacchino que já ganhou um Globo de Ouro e um Oscar pela trilha da animação “Up! Altas Aventuras” (2009), hoje, vem se destacando nos filmes de super-heróis (“Doutor Estranho”, “Homem-Aranha: de Volta ao Lar” e “Homem-Aranha: Longe de Casa”). Reeves, que já havia trabalhado com ele, o convidou para compor a sombria trilha de “The Batman”. Outro aspecto técnico elogiadíssimo é a fotografia do filme, dirigida por Greig Fraser. O australiano trabalhou em filmes como “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016), “Duna” (2021) e “Lion: Uma Jornada para Casa” – por este trabalho ganhou o AACTA Award de melhor fotografia, além de ser indicado ao Oscar. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, ele disse: “É ótimo trabalhar com Matt novamente (eles trabalharam em “Deixe-Me Entrar”). A franquia de Batman é icônica e é um privilégio poder visualizá-la da minha própria maneira”.
Tentar adaptar um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos para o cinema nunca foi uma tarefa das mais fáceis. Batman possui “uma aura encantadora que o diferencia dos demais ícones fabricados e distribuídos pela indústria cultural no mundo inteiro, sob a liderança dos EUA” afirma o autor do livro “Dicionário do Morcego”, Silvio Ribas. O Cavalheiro das Trevas já foi interpretado nos cinemas por Michael Keaton sobre a direção de Tim Burton (1989 e 1992), depois foi dirigido por Joel Schumacher com Val Kilmer (1995) e George Cloney (1997) como Batman e finalmente, a trilogia dirigida por Christopher Nolan tendo Christian Bale como o herói de Gotham. Em comum todas estas adaptações trazem a marcante assinatura dos seus diretores. Nessa nova abordagem de Reeves traz inúmeras referencias de quadrinhos e do universo cinematográfico ressaltando um filme investigativo, no melhor estilo dos filmes noir (“escuro”, em francês), valendo a pena conferir.
O lançamento do filme foi suspenso na Rússia – A Warner Bros suspendeu temporariamente o lançamento do longa na Rússia, “em razão da crise humanitária na Ucrânia”, segundo o porta-voz do estúdio.
Origens – Com o sucesso de Superman, várias editoras estadunidenses começaram a buscar personagens similares. Um dos editores da National (futura DC Comics) pediu ao jovem desenhista Bob Kane (1915-1998) a criação de um novo herói. Em 7 de maio de 1939 foi as bancas a primeira história de Batman/Wayne, na revista Detective Comics 27. A história “The Case of Chemical Syndicate”, foi criada por Kane e pelo amigo e escritor Bill Finger (1914-1974). Inicialmente Kane imaginou o personagem com uma pequena máscara, roupas vermelhas e asas artificiais baseadas no ornitóptero, protótipo de máquina de voar com asas de morcego imaginada por Leonardo da Vinci. Foi Finger quem definiu a personalidade do herói e mudanças importantes no visual da personagem. Outras inspirações para a criação do Homem-Morcego foram o filme “The Mark of Zorro” (1920) de Douglas Fairbanks e The Shadow, personagem dos pulps fiction (livros baratos impressos em papel de baixa qualidade). Sua origem somente é revelada em novembro, na história “The Batman and How He Carne to Be”, de Gardner Fox e Kane. A revista Detective Comics 33 mostra o assassinato dos pais de Bruce: Thomas e Martha Wayne, que o levou à obsessão pelo combate ao crime. O herói conquista o coração dos leitores.
Batman é um herói solitário, sem superpoderes que vivia situações parecidas com o cotidiano de seus leitores na época: crimes pelas ruas (de Nova York) e as atividades da Máfia. A leitura de quadrinhos era uma válvula de escape para seus leitores, na grande maioria crianças e jovens, num país prestes a entrar na 2ª Guerra Mundial. A editora fez ajustes ao herói como o fato dele não usar armas, não matar e trouxe um parceiro-mirim, Robin, para trazer uma visão mais juvenil ao “batverso”.
Robin foi criado em 1940, com a arte de Jerry Robinson. Dick Grayson, teve seus pais assassinados por mafiosos e se torna o primeiro par¬ceiro de Homem-Morcego no combate ao crime, surgin¬do a famosa “Dupla Dinâmica”. Em 1954, é publicado o livro “Seduction of the Innocent” do psiquiatra Fredric Wertham, que defendia que as HQs eram prejudicias as crianças. Wertham insinu¬ou haver contextos homossexuais e pedófilos entre Wayne e Grayson.
Voltando ao universo do herói, em 1941, importantes mudanças acontecem nas HQs. Gotham City passa a ser a cidade do herói substituindo Nova York. Surge o batmóvel e a Mansão Wayne. O Bat-sinal e a batcaverna surgem em 1942.
A extensa mitologia da personagem traz marcantes arqui-inimigos: psicopatas, serial killers, mafiosos, corruptos, enfim uma galeria imensa, entre eles: Coringa (1940), Cara-de-Barro (1940), Mulher-Gato (1940), Pinguim (1941), Espantalho (1941), Duas-Caras (1942), Charada (1948), Chapeleiro Louco (1948), Hera Venenosa (1966).
No Brasil, Batman estreou em novembro de 1940 na edição da revista infantil “O Lobinho” 7, do Grande Consórcio de Suplementos, de Adolfo Aizen. Nessa primeira aparição nacional o personagem era chamado de Morcego Negro.
Outras Mídias – Batman foi criado nos quadrinhos, mas foi adaptado para os cinemas, TV, games e até na rádio: em 1945, participou de um programa. Sua estreia em seriados aconteceu em julho de 1943. “Batman” (Columbia Pictures) teve Lewis Wilson (Batman) e Douglas Croft (Robin). O segundo seriado é “The Adventures of Batman and Robin”, de 1949, (ambos com 15 episódios) trouxe Robert Lowery (Batman) e John Duncan (Robin). Em 1966 pela rede ABC estreia o seriado “Batman” com Adam West no papel-título. As três temporadas de 120 episódios fizeram enorme sucesso. No campo da animação foram produzidos vários desenhos a partir da década de 1960, porém a animação marcante para os fãs foi “Batman – A Série Animada”, produzida por Bruce Timm.