Com avaliação positiva da maioria da população, o transporte público gratuito em Itapetininga fez cem dias no início do mês de abril. A medida foi implementada pelo prefeito Jeferson Brun em 30 de dezembro de 2023, instituindo a “tarifa zero” para os usuários da cidade.
Após passar por uma crise no primeiro semestre do ano passado, em 05 de junho de 2023, o serviço público de transporte coletivo foi assumido pela Prefeitura de Itapetininga. Depois de um período experimental de 6 meses, o prefeito Jeferson Brun autorizou a adoção do sistema gratuito de transporte coletivo.
Jornal Correio de Itapetininga entrevistou usuários no terminal de ônibus do mercado municipal, para saber a opinião sobre os serviços de transporte público gratuito.
Para Maria Inez Mariana, moradora da Vila Nova Itapetininga, o ônibus gratuito está sendo ótimo, ela sempre andava a pé e agora está utilizando o transporte coletivo. “Tô contente, nossa. Uma benção, né? Espero que continue!” diz Maria Inês. Já Pedro Henrique Santos, de 17 anos, estudante da ETEC Edson Galvão, avalia que “de maneira geral, foi uma mudança positiva”, principalmente pela disponibilidade de mais ônibus nas linhas.
Moradora da Vila Nova Itapetininga, Vera de Souza Soares afirma que o serviço está “nota mil, muitas pessoas que trabalham andavam a pé para economizar”. “Melhorou, está cem por cento, eu não tenho o que reclamar… os motoristas são ótimos” conclui Vera. A única preocupação dela é que depois da eleição o transporte gratuito acabe. O aposentado João Batista Camargo usa o ônibus regularmente para ir ao SESI e afirma que “agora tem mais horários e os ônibus passam de hora em hora”. “Antes eram três por dia, de manhã, no meio do dia e à tarde. Agora tem de hora em hora” diz João Batista.
Ana Maria Albuquerque, moradora do Vale São Fernando, utiliza o transporte do “circular” há aproximadamente 2 anos. Ela acha que o serviço hoje está bom, os horários foram ajustados e tem ônibus no final de semana e nos feriados. A dona de casa Mara Rúbia Siqueira, moradora do Tabuãozinho, avalia que agora o transporte público da cidade está razoável. “Não tá 100%, mas tá razoável, às vezes atrasa. Hoje mesmo atrasou devido a um acidente que teve no coletivo, mas estão bons os horários em comparação ao que era antes, quando ainda era tarifa paga” Mara Rúbia também destaca que muita gente antes gastava com o aplicativo Uber e agora está economizando.
Uma história de muitos problemas
No final de 2022 a crise do transporte coletivo em Itapetininga deu início a inúmeros protestos, por parte da população e principalmente dos estudantes, devido às más condições do serviço oferecido. Veículos em más condições, falta de linhas e também irregularidade com relação aos horários traziam inúmeros transtornos para a população. Além de prejudicar muito a população dos bairros, estudantes de instituições de ensino como a ETEC Edson Galvão e o Campus de Itapetininga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, diariamente perdiam suas aulas por conta da irregularidade dos horários dos ônibus. O transporte coletivo de Itapetininga era pago e há mais de dez anos funcionava num sistema de concessão por meio de licitações da prefeitura de Itapetininga. Neste período sempre houve muita polêmica, as empresas vencedoras alegavam prejuízos, apontando a concorrência dos moto-táxis e taxis rotativos, situação que até motivou um processo judicial milionário contra o poder público municipal. Enquanto as empresas concessionárias brigavam por maiores subsídios da prefeitura, o sistema de transporte público piorava gradativamente. A situação se agravou com o surgimento dos serviços de aplicativos como UBER e posteriormente a pandemia de COVID 19 forçou a suspensão dos serviços, agravando ainda mais os problemas da empresa concessionária. Com esse quadro, o nível de insatisfação dos usuários do transporte coletivo de Itapetininga chegou ao limite.
Cansados da falta de transporte e das dificuldades para chegar em suas instituições de ensino, um grupo de estudantes iniciou um debate direcionado para a questão do transporte, discutindo o direito à mobilidade urbana. A partir daí a questão saiu das telas das redes sociais e passou a organizar protestos, inicialmente nas instituições de ensino e depois chegando às ruas da cidade.
Luna Formaggi, estudante e produtora cultural, organizou um abaixo-assinado que teve mais de 5 mil assinaturas. O abaixo assinado teve grande impacto, virou o principal assunto da cidade nas redes sociais, trazendo a publicação de fotos que mostravam a precariedade dos serviços. Luna também era colunista do jornal Correio de Itapetininga, o primeiro veículo de comunicação a falar sobre o assunto. Na ocasião, uma reportagem do Jornal Correio mostrou que a oferta de transporte público coletivo gratuito já era possível, conforme o estudo Financiamento Extra tarifário da Operação dos Serviços de Transporte Público Urbano no Brasil, produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
A grande mobilização iniciada pelos estudantes chegou até o Paço Municipal. Após estudos de viabilidade, no dia 05 de junho de 2023, a prefeitura de Itapetininga assumiu o transporte coletivo da cidade por 180 dias, alugando 22 ônibus e encerrando o contrato com a empresa concessionária. A operação inicial da prefeitura ainda manteve a cobrança das tarifas, pelo período de 6 meses, até o dia 30 de dezembro de 2023, dia em que se iniciou o transporte gratuito. A partir dessa data, todos os custos da operação do transporte coletivo passaram a ser realizados com recursos próprios da Prefeitura. Antes de Itapetininga, 100 municípios brasileiros já haviam optado pelo transporte público gratuito. Para se ter uma ideia do peso da cobrança da tarifa, numa conta simples, um trabalhador que utilize o transporte de segunda a sábado, com duas viagens diárias ao custo de R$ 3,00, gasta aproximadamente R$ 1.700,00 no ano.
Questionada pelo Jornal Correio de Itapetininga, a Prefeitura informou que manterá o transporte gratuito em Itapetininga. Sobre a operação do sistema de transporte e seus custos, a prefeitura respondeu por meio de nota que atualmente são quinze linhas, abrangendo tanto as áreas urbanas como rural. Informou também que ao todo são vinte três veículos locados, contratados por meio de contrato, num valor de aproximadamente R$ 500 mil mensais. Sobre os motoristas, a nota da prefeitura diz que são quarenta e quatro motoristas, contratados por meio de Processos Seletivos Simplificados. O prazo da contratação é de seis meses, com possibilidade de renovação por igual período, até o prazo máximo de dezoito meses. Até o fechamento desta edição, o Jornal Correio não recebeu as informações sobre os custos relacionados ao pagamento dos motoristas.