Desde o século passado, o Largo dos Amores vem testemunhando uma transformação cultural. A praça, historicamente associada aos encontros familiares e à serenidade de seu entorno, agora é palco da “Batalha do Senna”, uma competição de rimas que tem conquistado espaço.
O evento é organizado por Ulisses de Andrade, que é funcionário público e um veterano do movimento Hip Hop, que trouxe as batalhas de rima para o centro de Itapetininga, depois de anos de envolvimento na cultura underground.
Fervoroso defensor do Hip Hop, Andrade explica que a escolha do Largo dos Amores como local das batalhas foi estratégica: “A batalha do Senna nasceu ao lado do ginásio Ayrton Senna, daí o nome “Batalha do Senna”, mas precisávamos de um lugar central, onde seria mais fácil para a população e MCs se encontrarem para rimar e apreciar a cultura Hip Hop. Além disso, ocupar este espaço, que tradicionalmente não era destinado à cultura de rua, é uma forma de resistência.”
As batalhas de rima, conhecidas pelo improviso e pela criatividade, se tornaram um fenômeno popular entre os jovens de Itapetininga, revela o organizador. “A “Batalha do Senna” não é apenas um duelo verbal; é uma celebração da arte, da liberdade de expressão e da inclusão social. O evento evoluiu de encontros esporádicos para uma programação semanal incluindo shows, palestras e debates que ampliam o entendimento e a apreciação da cultura Hip Hop”.
A origem das batalhas remonta à necessidade de dar voz e direção a jovens interessados no rap. Andrade reflete sobre a sua jornada: “Estou no movimento Hip Hop há mais de 20 anos, e as batalhas de rimas são uma vertente dessa cultura. Em 2014, as batalhas começaram a ganhar popularidade entre os jovens de Itapetininga, e foi então que decidi liderar esse movimento na cidade em 2015. Eles precisavam de alguém que realmente vivesse a cultura e os direcionasse ao verdadeiro propósito do Hip Hop.”
As raízes das batalhas de rima em Itapetininga são profundas. “Não sei dizer uma data exata, mas pode-se dizer que desde quando o Hip Hop chegou à cidade nos anos 2000, houve eventos de batalhas, mas naquela época, o foco principal era o rap como música. Lembro muito do grupo Domínio da Rima fazendo improvisações na Vila Arruda. De forma organizada, começamos em 2015 com a Batalha da Fonte, da qual também fui fundador e organizador”, explica Andrade.
Ele descreve os desafios enfrentados na organização do evento, desde a educação dos MCs sobre os valores do Hip Hop até as interações iniciais com a polícia local. “No começo, muitos MCs usavam palavrões e abordavam temas ofensivos. Foi difícil, mas implementamos regras contra machismo, homofobia e discursos de ódio. Hoje, somos uma das primeiras batalhas a ter tais regras.”
A relação com as autoridades também evoluiu. “Trabalhar na Secretaria de Cultura me ajudou a obter as licenças necessárias e a construir um diálogo com o poder público. Hoje, a polícia entende que é um evento cultural que já virou tradição na cidade”, relembra Andrade.
As batalhas de rima têm desempenhado um papel importante na vida dos jovens do município. “A maioria se interessa por batalhas mais do que pelo rap ou pelo Hip Hop em si, mas isso é uma porta de entrada para a cultura”, observa Ulisses. Ele destaca histórias inspiradoras de jovens que encontraram nas batalhas um caminho para o crescimento pessoal e a melhoria de comportamento, tanto na escola quanto em casa.
“Um jovem MC, que começou tímido e travado nas rimas, evoluiu incrivelmente e já ganhou algumas edições. A mãe dele me agradeceu, dizendo que ele melhorou em muitos aspectos da vida desde que começou a participar das batalhas”, compartilha Ulisses.
A “Batalha do Senna” não é apenas um evento de entretenimento, mas um catalisador de inclusão social e cultural. O evento atrai não apenas participantes locais, mas também MCs de outras regiões, especialmente durante edições especiais. “Isso só favorece o crescimento da batalha e a troca de experiências entre os MCs”, afirma Ulisses.
Os MCs que participam da “Batalha do Senna” muitas vezes se preparam intensamente, seja em casa, com amigos ou nos treinos realizados pelo próprio organizador. Ele também oferece oficinas de poesia, incentivando os jovens a expandir seu vocabulário e habilidades criativas.
A “Batalha do Senna” continua a crescer e a fortalecer seu papel como uma importante plataforma de expressão artística e inclusão social em Itapetininga. Para Andrade, o impacto é claro: “A importância é o despertar dos jovens, trazendo-os para conhecer essa cultura linda e aprender os valores por ela passados.”