Na sala 6, no Velório de Itapetininga, já ultrapassando às 17h30, a tristeza se alternava com lembranças alegres. A perda de José Roberto Nóbrega por um enfarto fulminante ainda atordoava familiares e amigos na quarta-feira, dia 14, de manhã. Carregava três marcas: profissional da imprensa, ligação tácita com o Rio Itapetininga e ouvidos abertos para o rock. Transitava com causos e piadas. Era incansável amigo de todos.
“O que dizer? Que pessoas boas semeiam o bem? Que pessoas de bom coração esperam que o mundo seja melhor? Que sejamos transformados pela simplicidade e olhar para o que a vida nos reserva? Pelo olhar da verdadeira simplicidade?”, pergunta o amigo Floriano Villaça. “Era um amigo, um irmão que me ensinou muito! Em muitos aspectos desta vida efêmera… Um amigo de um olhar angular e particularmente sóbrio! Que tinha uma visão muito além daquilo que sustentamos! Coloco aqui minha visão musical e minhas experiências como compositor! Sempre as trazia para ouvir o mestre Nóbrega…”, diz emocionado.
Floriano revela que o amigo lhe ensinou muito sobre o universo musical, em suas diversas tendências do rock a MPB. “Era uma biblioteca e discoteca ambulante!”, afirma. O músico conta que Nóbrega era um pesquisador por excelência, e dos bons! Sempre à disposição dos amigos para discutir, entender e propor novos caminhos. Era um incentivador das novas perspectivas musicais, querendo sempre romper, propor novos capítulos musicais.
“Era alguém sempre disposto a discutir sobre música! E difícil falar de alguém que sempre me trouxe ideias inovadoras e novas perspectivas… eu gostava demais de suas observações, críticas, questionamentos e comparativos! Nossas discussões eram transbordantes e sempre questionadoras! Poucos e muito poucos, eu diria, tiveram esse privilégio”, comenta Floriano.
José Roberto Nóbrega atuava como representante comercial nos jornais. Trabalhou no “Cruzeiro do Sul”, “Jornal Bom Dia”, “Correio de Itapetininga” e na revista “Top da Cidade”. Em cada contato, criava amigos. Um amigo que todos respeitavam.
Resgatava causos que todos queriam ouvir. Resgatava em suas palavras, um pouco da terra de Itapetininga. Quem o conhecia sabia do apego pelo rancho e pela pesca. O rio era um amigo, mas nunca soube nadar, revelavam colegas. Por isso, a distância era superada em viagens de barco.
“Nóbrega era um grande contador de histórias, pescador, bom humor, amante da natureza, bom de papo, língua afiada, politicamente questionador e indignado com nossa situação, cristão, bom vendedor, colecionador das histórias itapetininganas – como poucos –, e de outras histórias… era um apreciador da arte existencial”, diz emocionado o amigo Floriano. “Só desejo uma coisa: Que vá em Paz meu irmão! Que Deus o acolha, que o seu Reino o receba de portas abertas, que um dia novamente nos encontremos para olhar de longe esta vida tão efêmera!”, finaliza.
Nóbrega nasceu em Itapetininga, estudou nas escolas principais da cidade. Se formou em Direito, mas sua onda caminhava em outras direções. Deixou de lado o terno, para as vendas. Torcedor fervoroso do Palmeiras, cada jogada perdida o irritava, mas nas grandes vitórias transbordava em emoção.
Nestes últimos meses, o surgimento do vírus Covid-19 trouxe preocupação para uma pessoa que vivia de contato, de contar ao outro uma boa história. Adotou o isolamento. Na terça-feira, dia 13, recebeu a informação que receberia a segunda dose da Astrazeneca. Chorou ao telefone com a informação. Poderia sair um pouco de casa. Causa dor sua ida prematura e já deixa saudades. Ele tinha 65 anos, deixa a esposa Solange e filho Hugo. Porém, suas histórias permanecerão.