Itapetininga tem registrado um aumento de mortes por Covid, internações e ocupação dos leitos neste mês de maio. Na segunda semana do mês, houve uma ligeira queda, mas na terceira semana e agora nesta, a quarta, os números voltaram a subir. A médica infectologista, de Itapetininga, Carolina Malavazzi, conversou com o Correio sobre esse avanço da Covid e também fez um alerta de que o país deve viver uma terceira onda da pandemia.
De acordo com a médica, o Brasil provavelmente se aproxima de uma terceira onda de Covid-19. “Alguns fatores contribuem para isso: a segunda onda se estabilizou em patamar elevado de casos novos, internações e mortes; a entrada no país de novas cepas, particularmente a indiana; a criação de novas cepas como a P4 recém descoberta, e o ritmo lento de vacinação não oferecendo imunização coletiva. O isolamento precário e a lentidão da vacinação no Brasil geram a oportunidade para cultivar mutações do Coronavírus, favorecendo além do não
O recado da infectologista é manter todas as formas de prevenção já conhecidas: distanciamento social, uso de máscara, higienização das mãos e vacinação.
Porém, segundo a médica, isso não é suficiente enquanto não tiver ações efetivas dos governantes que possibilitem a adoção dessas medidas. “Sabemos que para uma parcela pequena da população são medidas possíveis de serem seguidas, porém a grande maioria da população brasileira não tem condições de segui-las por diversos motivos: devido a flexibilização do isolamento e falta de auxílio financeiro as pessoas têm que sair para trabalhar, muitas vezes se aglomerando em transportes e locais lotados”.
Além disso, a especialista pontua que hoje cerca que 14,5 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil, o maior número da série histórica do IBGE. “São pessoas que estão numa situação de grave vulnerabilidade social dificultando muito a adoção das medidas citadas”.
Malavazzi reforça que medidas mais contundentes precisam ser tomadas. “Enquanto o país não tiver políticas públicas como volta do auxílio emergencial de pelo menos R$ 600, crédito subsidiado a pequenos empreendedores, vacinação em massa, lockdown de 21 dias em cidades com situação crítica como Itapetininga e retomada responsável de atividades não essenciais onde o contágio mostrar recuo sustentável, continuaremos a contar nossos mortos”.
“Entendo a dificuldade dos municípios em tomar ações que não são apoiadas tanto pelo governo federal como pelo governo estadual, porém há mais de um ano o Supremo Tribunal Federal deu autonomia para os municípios para realizarem medidas de isolamento e infelizmente Itapetininga não usou isso a seu favor, muito pelo contrário, na prática apenas seguiu as recomendações das esferas superiores e ainda fez uma fiscalização deficitária para implantá-las”, apontou a médica.
A especialista ainda relembrou que no início deste ano a prefeitura de Araraquara deu um exemplo para o país, realizando um isolamento seguindo normas da Organização Mundial da Saúde, reduzindo significativamente o número de casos novos, internações e óbitos. Na contramão do país, óbitos por Covid em Araraquara cairam 62% em abril.
“É também possível a criação de um auxílio municipal para os milhares de desempregados e pessoas com renda familiar insuficiente para uma vida digna em Itapetininga, como já fizeram outras cidades como Ribeirão Preto, Canoas, Nova Lima, etc. Portanto existem ações locais que podem ser tomadas se houver coragem e compromisso das prefeituras com a população. Em todas as esferas políticas, ou seja, municipal, estadual e federal é preciso que a população tome consciência da importância da sua participação, pressionando os órgãos competentes para um controle da Covid-19 que assola nosso país”.
Novas variantes
A infectologista explicou que quanto mais o SARS-CoV-2 circula e se multiplica, mais viável é o surgimento das versões mutantes — caso da temida “variante brasileira”, a P.1, que é mais contagiosa, e há poucos dias a descoberta da P4. Essa questão tem a ver com outro temor, a possibilidade da vacinação incompleta contribuir para o aparecimento de coronavírus mais resistentes. Se a população não estiver completamente protegida, isso pode levar a uma seleção natural das cepas mais bem adaptadas, ou seja, mais transmissíveis e mais letais, com capacidade de escapar das vacinas. Por isso os cuidados devem ser redobrados.
Já tomou a vacina?
A médica orienta que se você só tomou uma dose a orientação é que tome a segunda dose. Sem o esquema por inteiro, o esforço de vacinação pode não ser efetivo. Os testes clínicos e os dados foram obtidos a partir das duas doses. Se você não tomar a segunda, vai ficar com uma proteção que a gente não sabe qual é nem quanto tempo dura. Isso vale para a sua saúde e para a dos outros. “Como indivíduos vacinados ainda podem transmitir a doença, é importante termos uma grande quantidade de pessoas imunizadas para que o vírus tenha mais dificuldade de transitar e causar problemas graves”.
Uma orientação permanece sólida: enquanto não tivermos boa parte dos brasileiros imunizados, em torno de 80%, é preciso continuar seguindo os cuidados: usar sempre a máscara quando sair, caprichar na higiene das mãos e evitar aglomerações. Isso, também se aplica a quem tomou a vacina, no momento ninguém é exceção!