A qualidade do ar é um fator crucial não apenas para a saúde humana, mas também para a produtividade agrícola. Nas últimas semanas, registros de queimadas, especialmente em estados como São Paulo, geraram impactos na saúde e até mesmo na mesa do consumidor. Embora o agronegócio tenha métodos de mitigação, é importante prestar atenção na qualidade dos alimentos consumidos.
O professor, doutor, vice-coordenador do curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Daniel Nassif, explica como a poluição afeta diretamente o crescimento das plantas, e consequentemente, seu consumo. “Quanto mais poluído for o ar, menor é a incidência de radiação solar, e isso pode atrapalhar o desenvolvimento das culturas”, afirma.
Para as culturas consumidas in natura, como verduras e frutas, o material particulado presente no ar se deposita nas folhas e frutos, aumentando o risco de contaminação. “Isso demanda uma higienização ainda mais rigorosa por parte dos consumidores”.
Apesar dos desafios impostos pela má qualidade do ar, Nassif ressalta que as perdas diretas no campo são limitadas. “A poluição em si não deve causar grandes prejuízos diretos à produção agrícola, mas há impactos indiretos significativos. O clima seco e os incêndios florestais, muitas vezes criminosos, representam a maior ameaça”. Segundo ele, o uso de irrigação pode minimizar as perdas, especialmente em períodos de seca e alta temperatura. “Os produtores também precisam intensificar o controle das áreas para evitar que os incêndios cheguem às plantações”, orienta.
Em relação ao impacto do agronegócio na qualidade do ar, Dr. Nassif observa que o setor, em sua maioria, é vítima dos efeitos da poluição e dos incêndios. “A grande parte desses incêndios é causada por pessoas que não estão diretamente ligadas à agricultura. Embora o agronegócio possa ter sua parcela de impacto ambiental, ele também atua como aliado na mitigação dos poluentes. As plantas cultivadas absorvem CO2, contribuindo para a redução do carbono na atmosfera”, explica o professor.
No entanto, a escalada de incêndios e poluição impõe desafios econômicos. Os incêndios que destroem áreas de cultivo trazem prejuízos financeiros diretos ao produtor rural, afetando também o abastecimento de alimentos. Isso, por sua vez, pode provocar aumento nos preços de hortaliças e frutas, pressionando o consumidor e o mercado.
Multas por queimadas chegam a R$ 25 milhões
O governo de São Paulo anunciou balanço das multas aplicadas por crimes relacionados a queimadas criminosas em 2024, com um total de R$ 25 milhões em multas. Entre 1º de janeiro e 16 de setembro de 2024, foram atendidas 2.392 ocorrências e vistoriados 2.159 focos de incêndio em vegetação em todo o estado. Foram lavrados 420 autos de infração ambiental, em ocorrências que afetaram 107 mil hectares.
A secretaria de comunicação estadual confirmou também que 23 pessoas foram detidas por suspeita de envolvimento em ações de início intencional de fogo.
Em evento no sábado, dia 14 de agosto, em São Carlos-SP, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o prejuízo em São Paulo já havia chegado aos R$ 2 bilhões para os agricultores, principalmente os plantadores de cana-de-açúcar. Segundo ela, já são 900 mil hectares de áreas de agricultura e pecuária queimadas, 1,4 milhão de hectares em área de campo de pastagem e 1 milhão de hectares em áreas florestais.
Apesar da diminuição considerável em focos ativos, o alerta para queimadas no estado tem previsão de aumento das áreas em situação de emergência.