Numa era onde a nova geração cresce no meio de tecnologias variadas, limitar ou impedir o acesso de crianças e adolescentes a dispositivos como smartphones e similares, tornou-se uma tarefa praticamente impossível. Segundo pesquisas de abril deste ano, feitas pela Opinion Box, foi levantado que 26% das crianças brasileiras entre 4 e 6 anos, já possuem seus próprios celulares e, surpreendentes 7% dos bebês de 0 a 3 anos já têm acesso a esses aparelhos. Essa realidade levanta preocupações sobre os impactos desse uso desenfreado na saúde mental e no desenvolvimento social dos jovens.
A psicóloga e especialista em desenvolvimento infantil e autismo, Pamela Nanini, alerta que o uso excessivo de telas pode prejudicar diversas áreas do desenvolvimento infantil. “Comunicação, socialização e habilidades sociais são as áreas mais afetadas”, afirma. Ela destaca que crianças expostas a dispositivos digitais sem limites podem apresentar distúrbios do sono, ansiedade, depressão, além de aumento na impulsividade e irritabilidade. Esses sintomas podem ser confundidos com transtornos do neurodesenvolvimento, levando a diagnósticos errados.
Nanini também ressalta que, mesmo com uso monitorado, há riscos de vício digital. “Crianças e adolescentes podem perder o interesse em atividades sociais e recreativas, prejudicando o desenvolvimento de importantes áreas do cérebro.” Ela ainda acrescenta que os primeiros sinais de dependência incluem irritabilidade extrema na ausência dos aparelhos, sentimentos de desamparo e agitação, potencialmente desencadeando transtornos mentais.
Conteúdos inadequados
A psicóloga destaca a importância de estratégias para reduzir o tempo de tela, como trocar o celular por brincadeiras e jogos lúdicos para limitar o acesso a conteúdos inadequados e estabelecer rotinas e horários fixos. Para adolescentes, é crucial manter um diálogo aberto sobre as consequências do uso excessivo de telas e estabelecer regras claras.
Ela acrescenta que a exposição prolongada a telas afeta a produção de melatonina, o hormônio regulador do sono, causa sonolência, hiperatividade e distúrbios de aprendizagem. Porém, Nanini enfatiza que as telas não são vilãs se usadas com moderação. “O problema reside no conteúdo e no tempo de exposição. Não podemos esquecer que elas estão praticamente nascendo inseridas em um mundo midiático e digital, e não podem ser totalmente alienadas a esse contexto”.
A OMS recomenda que crianças menores de 2 anos evitem telas, enquanto aquelas de 2 a 5 anos devem ser limitadas a uma hora por dia. Já adolescentes devem restringir o uso a no máximo duas horas diárias para evitar o ciclo vicioso de busca por prazer imediato proporcionado pela liberação de dopamina.