A impertinência de Abelardo

22/10/2021 00:45

O nosso esquisito Abelardo (um ícone da antiga Itapê) fez parar uma senhora na Rua Monsenhor Soares, em frente da antiga Camisaria Ambrósio, de propriedade do saudoso Epaminondas Ambrósio.
-Desculpe-me – disse ele – Posso levar-lhe a mala?
-Qual mala? – perguntou, espantada, a senhora
-Uma qualquer. Não faço objeção. Além disso, se alguém se oferece para levar uma mala, leva a mala que houver, não lhe parece?
-Mas se eu não tenho mala alguma! Exclamou a mulher, cada vez mais admirada.
-Não tem mala nenhuma? Que coisa esquisita! Então quando sai de viagem, como arranja para levar as suas coisas? Faz um embrulho?
-Não compreendo… disse ela, que de fato não conseguia entender o que é que Abelardo pretendia.
-Se a senhora não tem mala – repetiu Abelardo – leva embrulhos na viagem?
-Mas eu não estou ,nem pretendo fazer viagem nenhuma. Explicou ela, ainda calmamente.
-Mas , ainda que não faça nenhuma viagem, tem que ter uma mala. Pode precisar dela, não é verdade?
-Sem dúvida – assentiu a mulher – Eu tenho mala
-Ora vê? Tem mala ,mas antes dizia que não tinha.
-Não tenho aqui! Disse a senhora; -mas tenho em casa. Não preciso dela.
-Não venha agora me dizer que não precisa de mala quando faz viagens – advertiu Abelardo – Quando se fazem viagens as malas são sempre necessárias, mesmo que seja por poucas horas, porque há sempre qualquer coisa a levar.
-Eu não…., balbuciou a senhora, que já não sabia o que havia de dizer
-Ouça – arrematou Abelardo – não me faça perder a paciência . Eu ofereci-me com toda a gentileza para lhe levar a mala. Se a senhora não vai de viagem, não tenho culpa.
O fabuloso Abelardo voltou as costas à senhora e afastou-se a resmungar.
A senhora ficou parada, por alguns instantes, tentando entender o que houve alí. Não compreendeu, mas pensou –“Que mala”.