No último 23 de outubro o cidadão Edson Arantes do Nascimento que o mundo conhece como Pelé completou 80 anos de idade e a data foi bastante comemorada na mídia visualizada, falada e impressa desse país. Daí que imagens fixas e movimentadas de décadas atrás foram revistas sobre o craque, o atleta do século XX, principalmente as da Copa do Mundo de 1958, a denominada “Jules Rimet” que aconteceu na Suécia, culminando com a finalíssima, em Estocolmo com a seleções do Brasil e da Suécia.
Lembro-me ainda bem daquele dia. Naquele domingo, 29 de junho de 1958, tinha 17 anos de idade (alias a mesma idade de Pelé) acordei mais cedo com um único objetivo: estudar Sociologia da Educação, disciplina administrada pelo professor Irineu Grick Mascarenhas (formado pela USP), no então Instituto de Educação “Peixoto Gomide”, que era puxadíssimo. Cursava o 2° ano Normal, ou colegial de Formação de Professores Primários, depois, curso de Magistério, que infelizmente acabou.
Teria prova bimestral no dia seguinte, segunda-feira e tinha que estudar muito. Paginas e paginas de caderno. Acontece que nessa mesma amanhã aconteceria o esperado jogo final da Copa. A equipe brasileira era até a favorita (estava encantando o planeta pelo seu futebol, até agora), mas tínhamos um doloroso estigma, ou seja, o de perder nas finais. Não saia da memória dos torcedores brasileiros a “tragédia do Maracanã”, no Rio de Janeiro, quando o Brasil, franco favorito, perdeu a finalíssima, no dia 16 de julho de 1950 para a seleção uruguaia, calando o estádio, considerado na época o maior do mundo. Duzentas mil pessoas assistiam a partida, transmitida pelos rádios (não havia rede de televisão aqui). A partir desse dia nossa alto-estima foi “a zero”. Começamos a ter o “o complexo de vira-lata” segundo o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. Agora seria a nossa redenção, mais será que ganharíamos? Acordei, liguei o rádio e uma “onda” nacionalista baixou em mim. Tomei café aos goles, deixei o caderno de Sociologia de lado e desci correndo a rua José Bonifácio (hoje calçadão) para pegar um bom lugar no disputado Bar Garcia (na época: o “rei dos sanduiches”) que ficava na esquina daquela rua com a Saldanha Marinho. O dono do bar sintonizava na Radio Bandeirantes onde a possante voz de Pedro Luiz irradiava na Suécia. Como não havia televisão, tínhamos que imaginar a jogada dos craques, transmitidas pelo locutor Pedro.
As vezes, a voz dele, parecia sumir e nós chegávamos à conclusão que o país escandinavo era mesmo longe. Não havia “marketing” futebolístico nem aqui nem lá (bandeira, camisas, chapéus, uniformes e outros mais). Torcíamos vestindo camisas e calças comuns que usávamos sempre, nada era colorido. Vibrávamos com as mãos para cima, com uma alegria espontânea, nada era “fabricado”. Tudo parecia muito ingênuo. No final deu Brasil (5×2). O quase menino Pelé chorou muito, abraçado a Gilmar (goleiro) e Didi (atacante).
O grande capitão Hideraldo Luís Belline fez a pose heráldica levantando o troféu acima da sua cabeça, a pedidos dos fotógrafos. Bastante emocionados, começamos a cantar no Bar Garcia, aqui em Itapetininga. O – “Com o brasileiro não há quem possa…”
PS – Estudei Sociologia Educacional naquela noite. Fui bem na prova.