A velha rivalidade

Era início de novembro de 1957 e estávamos no 1º ano do curso Normal (Formação de Professores Primários, depois curso de Magistério e bem depois, extinto, infelizmente) no então Instituto de Educação “Peixoto Gomide”. Pertencíamos ao Orfeão da Escola (hoje, uma palavra em desuso, mas de acordo com minidicionário do acadêmico Silveira Bueno significa conjunto de pessoas que se dedicam ao canto). Num Orfeão, geralmente, no máximo existem dois ou três grupos de vozes diferentes. Pois é, estávamos no 1º Normal e naquele início de novembro (dias 10,11) preparávamos para representar o “Peixoto Gomide” no Festival de Canto “Villa Lobos” no também Instituto de Educação “Caetano de Campos” (hoje, o prédio que é uma arquitetura de Ramos de Azevedo, o mesmo do “Peixoto” funciona como Secretaria de Educação do Estado de São Paulo na praça da República, na capital paulista).

Iríamos competir com várias cidades paulistas e queríamos fazer bonito. Foram ensaios e mais ensaios. Anna Zilpah nossa professora de Canto Orfeônico e também nossa regente era incansável. Íriamos cantar em São Paulo no dia onze de novembro, numa segunda-feira, se não me engano e na semana anterior, no salão nobre da escola itapetiningana ensaiamos até ficarmos exaustos. À noite, dormindo, ou quase, eu escutava o Orfeão de dona Anna cantando: “Oh! Tupã, deus do Brasil” ou “Tajapanema se pôs a chorar, quem tem filha moça é bom vigiar…” duas músicas que lembravam os mistérios do povo, e da selva brasileira. Mas não ficávamos só no Brasil. Interpretávamos também Beethoven no “Cantai aos céus, a glória de Deus”. Fomos para São Paulo e já naquela época estava toda enfeitada para o Natal. Nos cinemas, uma das atrações era o filme espanhol “Marcelino, pão e vinho” com o ator mirim Pablito Calvo, a sensação do momento. Hospedamo-nos no Estádio do Pacaembu (era domingo e à tarde houve um jogo do São Paulo Futebol Clube pelo Campeonato Paulista – naq uele ano de 1957, o “mais querido” foi campeão com a participação de Zizinho, um dos maiores craques futebolísticos brasileiros de todos os tempos).

No dia seguinte, pela manhã estávamos no auditório do “Caetano de Campos”, esperando que o locutor do evento anunciasse a apresentação do Orfeão do Curso Normal do “Peixoto Gomide” de Itapetininga. Antes da nossa apresentação aproveitei para “puxar uma prosa” com uma mocinha do grupo da vizinha Tatuí, perguntando se eles estavam bem preparados para cantar. A normalista tatuiana respondeu: “Se ganharmos de vocês itapetininganos, já valeu o nosso esforço, compensou nossa viagem” (o Festival era uma competição de Orfeãos). Ela continuou: – “Queremos ganhar de vocês, só isso”.
Em tempo: Tatuí obteve o segundo lugar na competição. Na nossa frente. Infelizmente.

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