Mais uma vez o nosso conhecido personagem Dr. Abelardo, folclórico em suas ações, volta a abordar, inusitadamente, as pessoas em seus locais de trabalho ou na rua. Geralmente em busca de uma “lógica” das coisas, entrando em conflito, colocando o outro em pânico, perplexo e angustiado. Criava uma verdade estranha no compreender do cotidiano.
Pois o nosso Abelardo, certa vez, entrou numa livraria (a do Camilo Lelis, na Campos Sales), olhou, durante por mais de quinze minuto os livros expostos na vitrine, folheou alguns e, em seguida, chamou o livreiro.
-O senhor tem todos os livros? perguntou Abelardo.
-Todos, não digo, mais muitos deles, respondeu o livreiro.
– O Charuto, também? Continuou Abelardo.
-O Charuto? perguntou o vendedor franzindo a testa. “O Charuto”, de quem?
-Depois de comprado é meu – disse Abelardo. –Antes não sei, será talvez seu…
-Mas, que espécie de livro é? Argumentou o livreiro (irmão do Pedro José de Camargo, famoso professor e locutor da PRD-9.
-Não creio que seja um livro – disse Abelardo. Pelo contrário, tenho a certeza que não é. Os charutos são coisas que se fumam, a não ser os de folha de uva ou de repolho que os “turcos” comem. Enquanto que os livros, não. O senhor fuma livros? Julgo ter falado claro desde o início, continuou ele. –Eu falei num charuto e não num livro!
– Eu entendi que o sr quisesse um livro intitulado “O Charuto” – balbuciou o livreiro, meio atrapalhado.
-Para fumar? O senhor engana-se redondamente. Eu nunca fumei livros, compro charutos e fumo-os.
-Mas aqui temos livros e não charutos.
-E o quer que eu faça? Bradou Abelardo. –Se o senhor costuma fumar livros, fume-os, que posso fazer?
-Os livros leem-se, não se fumam – protestou o vendedor.
-Então quando lhe apetece fumar, como faz? Perguntou Abelardo.
-Eu não…. Gaguejou o livreiro, que já não sabia o que fazer.
– O senhor não! O senhor não. Berrou Abelardo perdendo sua famosa falta de paciência. O senhor me faz é perder tempo e nada mais.
Abelardo encolheu os ombros e foi à sua vida, como de costume, perambular pelas ruas de Itapetininga.
O que Abelardo e nem o livreiro lembraram é que os livros podem nos levar a qualquer lugar, a fazer qualquer coisa, a sentir, ver, sonhar, imaginar, criar monstros, amores e até mesmo fumar. Fumar os próprios livros.