Num deste dia da eterna pandemia (até quando?) assisti, mais uma vez, o documentário (via google, via internet) “Uma noite em 67”, produzido pelos documentaristas Renato Terra e Ricardo Calil sobre o borbulhante “3° Festival de Música Popular Brasileira de 1967” ocorrido em outubro daquele ano, promovido pela TV Record e cuja finalíssima (tema do documentário) aconteceu no teatro Paramount, da emissora, na avenida Brigadeiro Luís Antonio no Bexiga, em São Paulo.
Depois de vários programas classificatórios, o ultimo, justamente a final, transcorreu num sábado á noite e na época a TV Record tinha o maior “cast” (o elenco) de cantores famosos e atuais do Brasil e a Música Popular Brasileira, de bom gosto, dominava o horário nobre da televisão.
A finalíssima iria parar a cidade de São Paulo, como parou para assistir o grande “show”. E pensar que naquela época, a Record “não pegava” aqui em Itapetininga e os locais não podiam assistir aquela obra prima. Obra prima, sim. O 3° Festival MPB foi. E a musica popular brasileira nunca mais foi a mesma depois daquela noite. Dizem até que ela (música popular brasileira) perdeu a sua “virgindade” naquele Festival. Acabou-se o purismo. Pois Gilberto Gil e Caetano Veloso, meio desconhecidos até então (principalmente Caetano) tiveram a ousadia de introduzir guitarras elétricas em suas canções respectivamente “Domingo é no parque”, acompanhado por Rita Lee e os irmãos Batista e “Alegria, Alegria” com Caetano e guitarrista uruguaios um conjunto “Beat Boys”. Imaginem a cena: seguimentos de estudantes da Universidade de São Paulo, a USP, na plateia, inconformados com a horrível ditadura civil-militar da época (1964-1985), ainda teriam que aguentar música eletrônica com sons estrangeiros na mpb. Era demais. Apupos, vaias naqueles cantores e compositores e outros seguimentos de estudantes também uspianos, que queriam mudança, bradavam contra e do lobo (que conquistou o primeiro lugar com “Ponteio”) e Chico Buarque de Holanda (com “Roda Viva”) por não renovarem suas músicas dando-lhes um aspecto ainda tradicional. Mais enfim, naquela noite de 1967, tudo era cultura brasileira, tudo era nacional-brasileiro. E as manifestações eram livres naquela plateia sem censura militar.
Apesar de tudo, ainda dava para acreditar no Brasil e achar que nosso país ainda iria ter um futuro brilhante. Acreditávamos apesar que no ano seguinte 1968 haveria um “Golpe no Golpe” e sugeria o Ato Adicional número 5 que iria mais e mais, prender, torturar e matar brasileiro.
(Só para lembrar: “Alegria, Alegria” é aquela canção que diz: Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento eu vou… Por que não?)