Jesus, quando iniciou o seu ministério, contou várias parábolas. Há uma, citada por Lucas, e é conhecida por “Parábola do filho Pródigo.” (Lc.15:11) Observe, caro leitor, que há três personagens: pai e dois filhos. O pai é a personagem principal, uma vez que é o chefe do lar. Jesus afirma que o caçula, num desrespeito total, pediu a parte dos bens que lhe cabia por herança, bem entendido, depois da morte do pai e não antes.
Nota-se, por inferência, que o pai já era idoso. O velho repartiu os haveres e, depois de alguns dias, o jovem ajuntou tudo e partiu para uma terra distante. Longe dos olhares dos parentes e amigos, dissipou todos os seus bens, isto é, desperdiçou, esbanjou. Como esbanjara, não se sabe. Por fim, como tudo se acaba, sobreveio naquele país uma grande fome e o rapaz começou a passar necessidades. Com dinheiro, tinha amigos e colegas e sem os bens materiais, todos fugiram e desapareceram.
Cabe aqui aqueles versinhos:/“Amigos são todos eles/ como aves de arribação/ se faz bom tempo eles vêm/ se faz mau tempo eles vão.” Agregou-se a um dos cidadãos da terra e este mandou para os seus campos a guardar porcos. Ali, longe de tudo e de todos, no convívio com aqueles animais, sentiu-se um deles e desejava se fartar com as alfarrobas dos suínos. Diante disso caiu em si e sentiu pena de si mesmo e disse, num solilóquio: “Quantos trabalhadores do meu pai têm pão com fartura e eu aqui morro de fome.”
Não se arrependeu do que fizera, porém armou um plano para se desculpar com o seu pai e ensaiou tal justificativa: “Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.”
Levantou-se e foi para seu pai. Vinha longe, quando o seu pai o reconheceu e, compadecido dele, correu ao seu encontro e o abraçou e beijou. O filho começou a dizer: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti, já não sou digno de ser chamado teu filho…” O pai, porém, o interrompeu e disse aos seus servos: “Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei, também, e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.”
Não demorou muito e chegou o filho mais velho que estava no campo. Quando se aproximou da casa ouviu a música e as danças. Perguntou para um criado o que é que estava acontecendo. Ele informou que o seu irmão havia voltado e que o seu pai mandara matar um novilho cevado, porque o recuperou com saúde.
O rapaz indignou-se e não queria entrar. O pai, assim como demonstrara amor ao mais jovem, procurou conciliá-lo. O jovem disse: “Há tantos anos te sirvo e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos, vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.” Queria alegrar-se com amigos e não com familiares. Não amava o pai.
Note, caro leitor, como ele foi maldoso. Não o chamou de irmão, mas disse: “Este teu filho.” Não sabia como o seu irmão dissipara o dinheiro e caluniou-o, afirmando, sem ter certeza, que ele havia gastado com meretrizes. O pai, com o mesmo amor que demonstrara ao mais jovem, disse: “Meu filho, tu estás comigo; tudo o que é meu é teu. Entretanto era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.”
O reino de Deus é um reino de graça. Somos salvos pela graça. Deus, que é amor e Pai, busca o pecador perdido e leva-o ao arrependimento genuíno, onde a alegria pela salvação do perdido é experimentada intensamente. O homem deixa de ser escravo do pecado para ser filho de Deus, por meio de Jesus. Ninguém merece a salvação. Os irmãos não mereciam o pai que tinham.