As antigas “casas” prazerosas de itapetininga

Na época das safras, os fazendeiros e sitiantes colhiam e vendiam o seu café ou o algodão com enormes lucros. A cidade se enchia de dinheiro e simultaneamente, de prostitutas. De todos os lados do Brasil chegavam as mais bonitas e mais caras profissionais encomendadas pelos bordéis afamados, cujos anúncios luminosos avermelhavam a noite, ensinando aos neófitos que ali é a “Casa da Selma” e, mais adiante, a “Casa da Laura” e a “Casa da Davina”.
Os anúncios piscavam e convocavam os homens: “não se inibir por suas botas enlameadas, suas roupas sujas, sua barba por fazer, seu aspecto um tanto indesejável”. “Seu dinheiro redimia a sujeira e outras mazelas como a grosseria e até mesmo a feiura”. “Nosso estoque de prostitutas é constantemente renovado. Por isso elas estão sempre jovens”. “Nosso uísque é ruim e caro, nossa cerveja também”. “E mesmo que você goste mais de cerveja, uma garrafa de uísque na mesa é, para nossas meninas, a medida do poderio financeiro dos fregueses”. “Por isso peça ao garçom uma garrafa qualquer de uísque e com ela você seduzirá as melhores mulheres”.
Embora acorram prostitutas de todos os cantos, a maioria vem via São Paulo. A zona é a maior atração turística e também uma poderosa instituição social, tão integrada na economia, na psicologia e na maneira de viver da região, que, em nenhuma época, as autoridades locais pensaram em ampliar a segregação que lhe é imposta, além dos limites corteses tolerantemente aceitos por todos, inclusive pelas famílias.
Ela é uma cidade muito conservadora.
Até agora falávamos de Londrina, uma próspera cidade do Paraná, onde a maioria da população vive quase em estado de graça total, devido as condições sociais elevadas que ostentam onde a conhecemos, juntamente com os saudosos amigos Armando e Geraldo Matarazzo, no início dos anos 1950.
Em Itapetininga, a zona do meretrício não era tão opulenta e famosa como a de Londrina (onde hoje reside Jorge Badin). Teve início (como comunidade) na rua João Evangelista – atrás da Igreja Nossa Senhora das Estrelas -, em casas simples, mas limpas e primando pela higiene. Passou a funcionar depois entre as ruas Benjamin Constant e José Bonifácio, próximo ao famoso Bar “Sossega Leão”, no centro da cidade. Posteriormente instalou-se na área vizinha do então Asilo São Vicente de Paula e por último no local onde se localizava a concessionária da “Volks”. Foi aí que o Delegado Policial daquela época – anos 50 – determinou que todos frequentadores daqueles prostíbulos “fossem em fila indiana a pé até a Delegacia de Polícia, localizada na rua Júlio Prestes – para prestarem esclarecimentos”. “Tiveram que andar, cabisbaixos, quase dois quilómetros, transitando pelas ruas centrais de Itapetininga”, lembra Osvaldo Piedade.
Com frequência elevada, não só de cidadãos locais, como pessoas da zona rural e de outras localidades, as “casas” eram bem atraentes, com mulheres de várias idades, não só de naturalidade itapetiningana, como também provindas de outros Estados.
À noite, as “meninas” trabalhavam. Dormiam durante a manhã e, à tarde iam às compras, à matinê dos cinemas, ou às sorveterias – como a de João Martins, a do Carpinelli, do Vadozinho, ou nos “Gelados”. Vestiam-se e maquilavam-se discretamente, tanto que um desconhecido as confundiria com “senhoritas” ou “senhoras” “de família” que na mesma hora circulavam no mesmo lugar.
Conhecidas e famosas foram aqui Maria Candão, Ana Borja, Getúlia, Morcego, Maria Gamela, Rosa Palmeirão, Augusta (rendez-vous), e a doce Billy, iniciadora dos adolescentes na arte da sexualidade.
Atualmente, funciona em rítimo de agonia alguns “salões do prazer”, situados no Jardim das Flores. E, como proclamou a famosa Eny – que mantinha um luxuoso bordel em Baurú até fins de 1960, “os velhos e bons tempos de prostíbulos de exelência – dizia ela – foram dizimados pelas pílulas, pela revolução sexual e pela decisão das moças de família serem espevitas mais do que as meretrizes. ”.

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