Quem assistiu pela TV Globo neste último carnaval o desfile das escolas de samba do Grupo Especial tanto no Rio de Janeiro, como de São Paulo, pode notar que a grande maioria dos enredos refletiam sobre o Brasil e especificamente as raízes dele, tendo o Nordeste como ponto central e a África como influenciadora dos costumes, cultura e modo de vida desta nação brasileira.
Quase todas, de ambas as cidades, saudaram ou referenciaram a Mamãe África de um jeito ou de outro. Inclusive os sambas-enredos que colocaram muitos termos africanos em suas letras. Notamos que a maioria dos carnavalescos (as pessoas que elaboram os enredos) possuem entre 35 a 45 anos, geralmente formados em faculdades e que devem possuir um certo número de auxiliares para contar uma história. E vão fundo nelas. Devem haver muitas e muitas pesquisas sobre os temas. Não é fácil dividir 2,500 a 3,500 foliões em alas, e cada uma delas deve contar um trecho do enredo.
Fantasias diferenciadas, carros alegóricos enormes, harmonia (uma parte importantíssima do desfile). E tudo mais. Quando você estiver lendo esta coluna, as escolas de samba já estão preparando-se para os festejos para 2024. É trabalho para um ano inteiro. E tem que estar tudo para a passarela do Sambódromo carioca e paulistano.
Já existem professores de História do Brasil ou Geral que ilustram suas aulas com passagens de uma escola de samba quando os temas e os estudos se complementam. Genial. Bem diferente de 50 anos atrás, por exemplo, quando as únicas ilustrações que haviam eram os livros de Joaquim Silva e outros autores menos conhecidos. Lembro que minha professora de História, dona Gina, deu graças a Deus quando um cinema daqui anunciou o filme “Quo Vadis”, uma luxuosa produção da norte-americana empresa Metro Goldwyn Mayer (aquela em que um leão anuncia o filme). Ela estava entrando num capítulo sobre “Roma Antiga” e o filme (de fundo cristão) aborda este tempo. Mas isso era uma vez ou outra (não havia transmissão de televisão nesta época).
Interessante é que neste ano, as duas escolas de samba vencedoras, em São Paulo e Rio, abordaram quase o mesmo tema – “Lampião, o rei do Cangaço” e alguns trechos da música eram baião e xaxado. E aí surge a seca, a pobreza, a fome, a cultura do Nordeste. E logicamente, a música de Luiz Gonzaga é réu. A paulistana Mocidade Alegre e a carioca Imperatriz Leopoldinense contaram, logicamente, em ritmo de carnaval, o porque que as tropas federais queriam matá-lo no início do século 21. E conseguiram, calando assim o denunciante de injustiças sociais.
Se fato é foto