Quando as primeiras câmeras fotográficas surgiram no século XIX, o ato de fotografar exigia de seus participantes (aqueles que iam ser fotografados) uma postura toda empertigada, séria, meio impessoal, semblantes fechados, as pessoas fixando-se nos fotógrafos (quase todos profissionais) como se eles, através daqueles até então estranhos objetos, fossem revelar os detalhes das almas dos fotografados. Geralmente quem tinha esse privilégio (“de sair no retrato”), pelo menos, no início do século XX, no Brasil, eram pessoas bem situadas economicamente, nobres e da alta burguesia, que já nasciam com essa pose e ficavam com ela, a vida toda. Os “anos vinte” do século XX também chamados de “anos loucos”, principalmente na Europa, as pessoas (que eram privilegiadas economicamente) “quebravam” um pouco esta sisudez do momento da foto. Eles, europeus tinham passado, pelos horrores da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) onde morreram milhões e milhões de pessoas e em razão disso não estavam levando a vida tão a sério. Daí que meio “soltos” no momento do click.
No finzinho dos anos trinta e início dos anos quarenta, a fotografia passa por uma série de modificações tanto no campo tecnológico como estético, principalmente através de revistas norte-americanas como: “Life”, “Esquire”, “Vanity Fair” e outras (a maioria, de New York, U.S.A). Nelas, as pessoas pareciam movimentar-se nas fotos. Bem diferente das primeiras, quando as pessoas pareciam hipnotizadas, no momento do instantâneo. Observem, na coluna “Vitrine”, deste mesmo Correio de Itapetininga, cenas de uma Itapetininga, bem, mas bem antiga, do arquivo do Museu da Imagem e Som desta cidade. Nos anos 50, as máquinas, lentamente, começam a popularizar-se tornando-se até domésticas e retratando o dia-a-dia das famílias. Mas, em momentos solenes, como formaturas, por exemplo, a função ainda cabia a profissionais. Ainda nos anos 50 (do século XX), repórteres da revista “O Cruzeiro”, entre outras como o legendário Ed Kessel contam a história da metade final do século através de registros fotográficos, como, por exemplo, o espanto do goleiro Barbosa, da seleção brasileira, ao tomar o segundo gol dos uruguaios na Copa do Mundo de Futebol de 1950, em pleno estádio carioca do Maracanã. A cena de Barbosa olhando a bola seguindo para o interior do seu gol ficou antológica. Em Itapetininga, entre muitos outros, tivemos um mestre chamado Polysanto que entre muitas fotos, uma é primordial, uma cena de um baile no salão de festas do Clube Venâncio Ayres durante um baile em 1945. Ela está exposta na entrada do clube, no Largo dos Amores.
Enfim, hoje, quase todos possuem uma máquina, a maioria digital, daquelas que você pode ver do próprio objeto, a foto tirada, segundos antes. Para alguns, bom mesmo é utilizar uma máquina não digital, não muito moderna e mandar revelar somente os negativos (ainda existem!). Dez ou mais anos depois, transformar tais negativos em retratos e sentir que, olhando para estes, você não perdeu o frescor físico, sua pele continua viçosa, seus dentes, ainda brancos, nenhum rusga, os cabelos com a mesma tonalidade, enfim, você ainda está inteiro. Você sente isso… mas só se for um incorrigível otimista e vê a vida somente pelo lado cor-de-rosa. Só assim.