Estive em Setúbal, Portugal, no dia primeiro de julho de dois mil e dezenove, cidade de Bocage, aliás, o seu nome completo é Manuel Maria Barbosa Du Bocage. Foi o sátiro, como já disse alguém, de irreverência sem par e o maior talento poético repentista da Literatura Portuguesa.
Vi o bar onde ele escrevia e declamava as suas poesias eróticas e satíricas. Na praça está a sua estátua e ele numa pose de declamador.
Lembrei-me, quando tirava uma foto de sua estátua, do meu professor de Literatura Portuguesa e Brasileira. Na época, nos idos de sessenta, o Rev. Armando Pinto de Oliveira, o meu professor, recitou, entusiasticamente, como bom português, o soneto “Contrição” de Bocage. Na época fiquei deslumbrado com a poesia e com a chave de ouro: “ Deus, oh Deus… quando a morte à luz me roube / ganhe um momento o que perderam anos, / saiba morrer o que viver não soube”. / Naquela fase da vida, como adolescente, vivia pensando e sonhando com a morte. Perdera na época minha mãe, santa flor de lis e o meu pai, historiador e meu inspirador. A morte estava nos olhos e na mente.
Lembrei-me de Paulo Setúbal, o escritor de Tatuí que escreveu “Confiteor”, obra que se assemelha ao soneto de Bocage. Aflorou, também, na minha mente, o ladrão, que na hora extrema e ao lado de Jesus, reconhecendo a Divindade de Cristo e a inocência, numa prece curtíssima, disse: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”. Embora a oração fosse curtíssima e sem as pieguices dos fariseus, Jesus, o Verbo Divino, respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.
Na hora extrema o ladrão que passara furtando e roubando, reconheceu o seu pecado e a pureza de Jesus, arrependido ficou do lado de Cristo e ao seu lado foi para o Céu, que Jesus o denominou de Paraíso.
Comprei uma obra de Bocage e, no hotel, no período noturno, antes de orar e agradecer o dia que Deus me dera, li alguns sonetos satíricos de Bocage e uma confissão na agonia: “Já Bocage não sou… A cova escura/ meu estro vai parar desfeito em vento…/ Eu aos céus ultrajei! O meu tormento/ leve me torne sempre a terra dura”. / No final, na famosa chave de ouro, lembrando-se de Pedro, o Aretino, que, como ele, fez sonetos licenciosos, disse: “Outro Aretino fui… A santidade/ manchei!… Oh! Se me creste, gente ímpia, / rasga meus versos, crê na eternidade! ”/ (Pedro Aretino era um poeta italiano e morreu em Veneza em 1557, autor de diálogos cheios de graça e vivacidade e de muitos sonetos licenciosos.)
Como ficaria feliz, se soubesse, que todos os que me leem se tornassem discípulos de Jesus e jamais morressem com o coração cheio de remorsos, mágoas e tristezas por não terem vivido bem e longe da cruz de Cristo.
Continuo parafraseando Fernando Pessoa: Ensinar é preciso.