Senhor respeitável, todas as épocas e lugares, sem preocupações comezinhas de qualquer espécie. Sem pressas , nem dialética, nem problemática, enfim sem coisa nenhuma à exceção da sua veneranda personalidade e de uma indestrutível coerência de ideias, conhecido em toda Itapetininga nos anos 1940 e 1950, onde mantinha um salão de barbearia na Rua Aristides Lobo, frente a velha casa de Salomão Abib.
Costumava passear pelas ruas, contatando com os seus semelhantes, a procura das logicas das coisas . E numa de suas andanças Dr Abelardo entrou no Bar 21 Estados, do saudoso Arthur Matarazzo, na Rua Monsenhor Soares e disse: -Desculpe, dirigiu-se ao dono. Aqui há corrente de ar ?
– Pois… na verdade, respondeu o dono, surpreendido pela pergunta. – Creio que não. –Há ou não há? Insistiu Abelardo .As correntes de ar são logo notadas e não opinião. São correntes de ar .
-Agora não há, afirmou o dono do bar. A janela está fechada.
-Porque ? perguntou Abelardo,
-Porque as correntes de ar fazem mal , respondeu
-Eu sei , eu sei, disse Abelardo, mas com as janelas fechadas não correntes.
-O senhor quer sentar-se a mesa, convidou o proprietário
– Eu? Perguntou Abelardo. –Para que ?
-Não sei , respondeu o Dono., que na realidade não sabia de o que Dr Abelardo queria.
-Talvez queira tomar ou comer algo….
-Eu não ! Exclamou o barbeiro. Eu não, repetiu. Eu perguntei apenas se neste bar havia corrente de ar.
-E eu lhe disse que não, entoou já irritado o comerciante.
-Não tem porque a janela está fechada , mas se estivesse aberta, então teria. E como as correntes de ar fazem mal, vou embora.
– Mas ninguém abra a janela, disse o dono, que não aguentava mais a conversa fiada.
-Se ninguém abre a janela, como sabe o senhor que com a janela aberta há corrente de ar?
-É …. que, gaguejou o dono , quando está aberta nota-se.
-Ah! Gritou o Dr Abelardo, perdendo sua estranha paciência . – Como então abriu a janela? Então para que toda essa história que me contou? Só para eu sentar numa mesa e apanhar uma pneumonia? Agradeço-lhe muito, mas vou a outro bar.
O Dr Abelardo saiu resmungando e sacudindo a cabeça, cheia de indignação. Em seguida entrou na padaria do Sr Vadozinho, próxima ao saudoso Cine Olana.
O Sr Arthur Matarazzo nunca entendeu o que se passou