Quase não acredito, mas cheguei aos sessenta e dois! Magro igual caniço, mas forte uma barbaridade… Confesso: não quero sair de Itapetininga… Já saí uma vez, mas voltei vinte anos depois… Já que é assim, quero ficar aqui, “velhinhar” aqui, ser enterrado aqui… Mas podem ficar tranquilos, não pretendo virar assombração e assustar os meus chegados… Depois que eu me for para a banda de lá, pedirei licença ao Divino Santo Pai e darei um jeito de continuar por aqui, mas sem incomodar ninguém, juro por Deus!
E sempre que puder, subirei a Dr. Coutinho, invisível aos olhos de todo mundo, entrarei no shopping, olharei as vitrines, as moças… Passearei na feira livre, nas quintas e domingos… E, já que estarei na Avenida Peixoto Gomide, me sentarei num banco para admirar as três escolas: Adherbal, Peixoto Gomide e o Fernando Prestes! Ficarei longo tempo contemplando as fachadas das três escolas e recordando, recordando…
Depois caminharei pela Rua Campo Salles olhando as lojas… Subirei a José Bonifácio em estado de graça, pensando em alguém… A única coisa chata do meu passeio será quando eu cruzar com um amigo, não adiantará eu cumprimentá-lo porque ele não poderá me ver. É, ser apenas um fantasma tem as suas desvantagens…
Da Rua Monsenhor, sairei na Praça dos Amores… Sentarei num banco e ficarei olhando, olhando… Talvez ela passe nessa hora pelo Largo para ir à igreja da Matriz e eu possa vê-la outra vez, quem sabe…
Não vou sair daqui… Nem depois…