Filosofia Medieval e Godescalco

Estive a estudar, como falam os portugueses, a Filosofia Medieval e, de modo particular, a Renascença Carolíngia. Houve, na verdade, historiadores que recusaram dar ao movimento intelectual, nascido da vontade de Carlos Magno, o nome de Renascença. Vou deixar tal assunto para os entendidos, porém tratarei de um grande problema tratado pelo filósofo e teólogo Godescalco, morto entre 866 e 870 d.C. Ingressou muito novo, no ano de 822 d.C. na Abadia de Fulda e saiu de lá em 829. Viajou para Corbie, Orbais, Roma e Norte da Itália, nos Balcãs. Por duas vezes, em 848 e 849 foi condenado e chicoteado pelas teses que professava a respeito da Predestinação. Em 849 foi encarcerado no Mosteiro de Hautviller, perto de Reims, onde ficou até à morte. Godescalco esposava a doutrina da Predestinação de um agostiniano extremista, afirmando que os maus são predestinados à morte, como os bons à vida. Dizia, também, que o livre arbítrio foi extinto pelo pecado e Deus não quis salvar todos os homens, apenas os eleitos, por quem somente Cristo morreu.
Há muitas verdades no pensamento de Godescalco e são estas verdades que irei destacar nesta aula de Filosofia. A Bíblia, tanto no Velho Testamento como no Novo, discorre sobre a Predestinação. O apóstolo Paulo tratou do assunto na sua Carta aos Romanos, bem como na de Efésios. Os cristãos, que não aceitam, são hereges, pois há muitas verdades que não dá para entender pela razão e só pela fé e ponto final. Negar a Predestinação é negar a Bíblia. Há muitos historiadores que não concordam que a Idade Média seja a idade das trevas. Os Reformados pregam que é a Idade da Trevas, porque os cristãos não conheciam a Bíblia. O mundo, então, desconhecia a verdade bíblica da salvação pela graça. O monge Godescalco, talvez, conhecedor dos ensinos do apóstolo Paulo, conseguiu, por si mesmo, entender, em parte, a doutrina pregada por São Paulo, incompatibilizando com todos os teólogos e filósofos do seu tempo. Obrigou, no entanto, alguns a tomarem posição. Estiveram do seu lado Retrimne, Loup de Ferrières e Flores de Lião.
Os Reformados ensinam, tomando como base a Bíblia, que “todo gênero humano pela sua queda (no Jardim do Éden) perdeu a comunhão com Deus, está debaixo de sua ira e maldição e assim sujeito a todas as misérias nesta vida, à morte e às penas do Inferno para sempre”. Afirma, ainda, “que tendo Deus, unicamente pela sua boa vontade desde toda a eternidade escolhido alguns para a vida eterna, entrou com eles em um pacto de graça, para os livrar do estado de pecado e miséria, e trazer a um estado de salvação por meio de um Redentor”. Os Reformados dizem, ainda, que o Redentor dos escolhidos de Deus é Jesus. Cristo morreu de um modo particular para os seus escolhidos. Jesus Cristo veio para o seu povo e morreu pelo seu povo, isto é, pelas suas ovelhas. Foi por isso que Cristo disse e São João, o apóstolo do amor, registrou para o nosso ensino: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que me Pai me deu é maior do que tudo”. O homem perdeu o livre arbítrio, pois é escravo do pecado. Não consegue nem se libertar do cigarro, do álcool e de outras drogas. O filósofo e teólogo Godescalco não estava tão errado assim. (O povão não sabe interpretar um texto.)
Coitado do monge, teólogo e filósofo Godescalco!