Galvão Junior: um repórter ainda sempre lembrado

Um livro, sem dúvida, eterniza uma cidade, por mais simples e humilde que ela seja. Itapetininga, hoje com 160 mil habitantes foi e está sendo contada em várias publicações de autores diversos, mas com número pouco satisfatório de exemplares impressos, portanto com conhecimento limitado de leitores. No entanto, assim não acontece com “Itapetininga & Sua História”, uma obra, escrita no início de 1950, pelo jornalista Galvão Júnior e utilizada até hoje em pesquisas e como referência de relato histórico de nossa cidade. Galvãozinho, como era conhecido, é considerado um dos maiores repórteres surgidos na cidade, que revolucionou a imprensa local. Tendo como amigos, na época, Fernandinho Prestes, filho de Júlio Prestes, José Cavalheiro Salero, também jornalista e proprietário do “Aparecida do Sul”, entre outros, Galvãozinho, filho de Antônio Galvão, fundador de um dos primeiros jornais de Itapetininga, se notabilizou pela sua combatividade e amor às causas que abraçava. Conhecido, então, como “repórter caboclo”, iniciou suas atividades como tipógrafo, isto é, compondo caracteres móveis para a composição do hoje tradicional periódico “Tribuna Popular”. Aprendendo na oficina, com o pai Antônio, um batalhador que “punha sua alma e seu sangue em favor das causas itapetininganas”, Galvãozinho, absorveu todo o ensinamento não só da língua portuguesa, mas também como redigir com precisão e “ausência de erros gramaticais”, segundo lembrava sua saudosa esposa Pedrina Araújo, uma de suas incentivadoras para a profissão que abraçou com entusiasmo.
Provindo de uma família composta de nove filhos: Prof. Péricles Galvão; Drs Silvio e Gilberto, as professoras Esther, Anália, Judith, Nair e Ruth, todos com renome no cenário social de São Paulo.
Por quase meio século atuou na imprensa, iniciando a “Tribuna Popular”, trabalhou também no “Diário de Itapetininga”, na Rua Júlio Prestes e, finalmente, no “Semanário”, um jornal impresso no município de Sorocaba, com aproximadamente 5 mil exemplares, uma quantia imensurável para a época. Sabia como comandar com brilho e inteligência os inúmeros problemas surgidos em sua carreira. Foi através de reivindicações sob sua liderança que, na época, o governo estadual aceitou construir o novo Fórum, na Avenida Peixoto Gomide, assim também, através de sua “pena”, sua luta na imprensa, construíram-se vários postos de saúde, além de melhoramentos diversos, realizados por prefeitos de então.
Célebre e com repercussão nacional, foi a ação que um político de grande influência no município, na década de 50, moveu contra Galvãozinho, por sentir-se ofendido moralmente em artigo publicado no “Diário de Itapetininga”, de sua propriedade.
O político, para auxiliar o promotor de justiça, contratou um advogado conceituado da capital, mas os defensores de Galvãozinho foram: o notável Jango Mendes e o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o ínclito Freitas Nobre. Por unanimidade, após defesa das mais brilhantes, convincente e justa, o “repórter caboclo” foi absolvido, “com júbilo de grande parte da população”.
Frequentador assíduo dos clubes da cidade e, principalmente um cliente considerado especial do charmoso Bar Rodovia, Galvão Júnior também é lembrado pela sensacional série de artigos veiculados em seu “Diário”, contra a falência de um determinado banco, que ele taxava como “estranha”. Foi igualmente, o protagonista de uma polêmica com outro jornalista, contratado especialmente para desmoralizá-lo, isto em boletins que eram distribuídos nas ruas da cidade. O episódio referia-se ao estado de “quase abandono” em que se encontrava a Santa Casa local naquela época e Galvãozinho era crítico mordaz da situação do hospital. Para refutá-lo, o provedor da instituição, contratou um profissional da capital paulista. O interesse pela “briga” movimentou a opinião pública e a venda de exemplares constituiu-se em caso inédito em Itapetininga.
Além de combatente da Revolução constitucionalista de 32, servindo no 4° Batalhão Misto, sob o comando do Major Comandante Adanias Monteiro, que atestou sua bravura e desprendimento “como se ouve nos diversos setores onde atuou: Buri, Apiaí, Cunha, Itapira, Mogi-Mirim, Jaguari e Amparo”. Galvãozinho integrou a Câmara dos Vereadores de Itapetininga, eleito pelo antigo PTN, ao lado de seus amigos Helly Trench e Salero.
Galvão Júnior, pai da saudosa jornalista Lázara Galvão, professora que dirigiu por alguns anos a “Tribuna” e das professoras Maria Helena e Terezinha, embora tivesse sido convidado para trabalhar no antigo “Última Hora”, de propriedade de Samuel Wainer, na capital, preferiu continuar trabalhando em sua cidade, em favor de seu povo, especialmente das pessoas humildes porque entendia “o jornalismo com o instrumento para bem servir a comunidade”.

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