Itapetininga em busca de seus aromas perdidos

O cenário da cidade é outro. Não mudou substancialmente, mas a olhos vivos vai modificando gradativamente.
Os casarões, alguns históricos e outros de relativa importância foram demolidos ou substituídos por modernas construções e lojas empórios, lanchonetes e bares, além de outros estabelecimentos comerciais que se sofisticaram. Enquanto a atual e movimentada Campos Sales tornou-se quase uma Rua Augusta, a Silva Jardim assemelha-se à grã-fina Oscar Freire e a José Bonifácio, com as devidas reservas, em uma parcela da 25 de Março. O visitante que aportar em Itapetininga e que já a conhecia, se surpreenderá com a mudança quase radical de suas ruas.E de sua memória sensorial, a primeira que vem à mente é a visual, que preservou ao longo décadas a imagem perfeita da primeira amada.
Para alguns, as memórias que tendem a preservar por mais tempo são as que foram gravadas pelos ouvidos, como a das cantigas de roda que remontam à infância. A de outros ainda, garante reserva de domínio às lembranças ativas do tato, privilegiando a sensação de carícias amorosas. E há também os que preferem as memórias gustativas – manjar branco, o primeiro gole de guaraná, primeira Coca-Cola, pitanga madura partida entre dentes.
No entanto, muitos desta urbe, já com idade um tanto madura, e, talvez, por anos de tabagismo, voltam-se quiçá saudosos, para o olfato. Por esta razão, é quase certeza que preservam uma memória olfativa, recordando a época em que boa parte de Itapetininga cheirava bem, do tempo em que ruas, praças e bairros tinham aromas distintos e exóticos.
Ocorria o registro de alguns maus cheiros, costumando-se sustar a respiração, por exemplo, ao passar pela frente do Matadouro, no final da rua Júlio Prestes. Tapava-se o nariz quando se aproximava do Ribeirão do Carrito ou do Olho d’água, locais onde funcionavam dois curtumes, mas esses maus cheiros eram raros. Isso porque a cidade se concentrava mais na parte central e rara era a casa que não tinha seu jardim, fosse ele grande ou pequeno, sofisticado ou muito simples. E a cidade recendia a flores de janeiro a dezembro, sendo que ao perfume dos jardins particulares, unia-se o das praças dos “Amores”, “Matriz”, da “Peixoto” e outras —no pungente odor noturno das Damas da Noite”.
As ruas tinham seus cheiros característicos e bem definidos. Na Saldanha Marinho, ou na Bernardino de Campos, esquina com a Avenida e na Barbosa Franco respirava-se o ar mais itapetiningano, sempre impregnado do cheiro forte de café torrado na hora, com as torrefações do Café Bourbon, do “Cordeiro” e do “Santo André” e, à pouca distância, próximo ao “Operário”, atual Recreativo, o Bar 21 Estados, de Artur Matarazzo, o odor era de natureza muito diferente: uma infinidade de mistura de cachaças. Ali, nas prateleiras e balcão havia de tudo que se possa imaginar em termos de aguardente: corri uvaia, sucupira, carqueja, arruda, losna; cachaças brancas e amarelas. E o odor era intenso, abrangendo uma área que se estendia até o Largo dos Amores.
Na rua José Bonifácio e no Largo dos Amores, o ar recendia docemente e provocando grande apetite como cheiro dos famosos sanduíches de pernil, do bar Garcia e os inigualáveis pastéis, manipulados pelas mãos abençoadas de D. Alice Venturelli – mãe de Carlos José de Oliveira. Próximo, o Bar Primavera brindava os clientes com o delicioso bife a cavalo, de propriedade inicialmente de Alcides Bicudo e, posteriormente, de Abrahão Isaac, enquanto que ao longe exalava o cheiro de churrasco preparado pelo “Sacy”, até hoje em funcionamento.
Em algumas ruas persistia o antigo cheiro dos armazéns, o velho e familiar odor da combinação de secos e molhados, como os de Esaú Isaac, Francisco, Benedito e Maurício Tambelli, os de Cherenga e irmãos Duarte e os de José Galvão, Flávio Hungria, João Nagib e Rossi, e o famoso Empório Campos Sales dos irmãos Olavo e Paulo Hungria. Também muitos se lembram das quitandas que exalavam a fragrância das frutas e legumes, como as do Gataz Alguz, na Aristides Lobo, ou a do Espanhol, na Campos Sales, frente à farmácia Central de Jô Lara, assim como a quitanda Paulicéia, na Saldanha Marinho. Cheiros característicos que permaneceram foram os das fábricas de bebidas de Benedito Tambelli, irmãos Ruzza – com a famosa Tubaina -e de Amador de Oliveira, na Aristides Lobo, com sua apreciada gasosa de vários sabores e que anteriormente pertenceu a Eugênio Ventura.
Lojas de tecidos, armarinhos e perfumaria, como as Casas Salero, Tecidos Glória, Casa Ayub, Loja de Daher Chamie (posteriormente Loja da Ivete), Armênia, Tecidos Boto, farmácias diversas onde o ar da tarde recendia extratos, discretas colônias e o cheiro leve de panos de todas espécies, proporcionavam prazer ao olfato de todos.
Atualmente, após a eliminação dos deliciosos cheiros, restou a Itapetininga a combinação do gás dos veículos, lixo e os recendentes desinfetantes e detergentes, símbolos da vida moderna e asséptica.

Últimas

Falecidos da Semana

21 DE NOVEMBRO DE 2024 ROQUE DO ESPIRITO SANTO DATA/LOCAL DO FALECIMENTO: 21/11/2024 ÀS 17:24HS EM SOROCABA IDADE: 54 ANOS PROFISSÃO: AUTONOMO ESTADO CIVIL: CASADO COM A SRª CLAUDIA APARECIDA...

Lombadas Eletrônicas começam a ser instaladas na cidade

Lombadas Eletrônicas começam a ser instaladas na cidade

Começaram a ser instaladas em Itapetininga nesta quarta-feira, dia 20, lombadas eletrônicas, equipamentos fixos de fiscalização ostensiva localizados em trechos com intensa circulação tanto de veículos quanto de pedestres, como...

mais lidas

Assine o Jornal e tenha acesso ilimitado

a todo conteúdo e edições do jornal mais querido de Itapetininga

Bem vindo de volta!

Faça login na sua conta abaixo


Criar nova conta!

Preencha os formulários abaixo para se cadastrar

Redefinir senha

Por favor, digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail para redefinir sua senha.