O rei do sertão

Em 1951, eu frequentava a classe do 4° ano primário (hoje: 5°serie do ensino fundamental I) no Grupo escolar “Major Fonseca”, aqui em Itapetininga.
A professora era a excelente Hilda Weiss. Nessa serie começamos a estudar o Brasil em Geografia. O mapa do país era colocado em posição vertical (de cima para baixo) no quadro negro. Nós alunos conhecíamos os estados de Minas Gerais para baixo aprendidos na 3° serie do ano interior. Acima de Minas Gerais no mapa seria o Nordeste. Nordeste? Quais estados? Dona Hilda Weiss ia apontando os nomes de alguns estados que compunham o tal do Nordeste. E a professora Hilda enumerava alguns: Bahia, Paraíba, Pernambuco, Ceara, Piauí, Alagoas, entre outros. Mas com as explicações da mestra, das reportagens da revista “O Cruzeiro” (revista semanal, de circulação nacional e vendidíssima) que trazia reportagens sobre as terríveis secas nos sertões e o sofrimento dos moradores.
Mas fui aprendendo também sobre a região através das músicas do cantor e compositor Luiz Gonzaga (nascido em Exú, Pernambuco no ano de 1901 e falecido em Recife no mesmo estado em 1989). Sanfoneiro por vocação, Luiz Gonzaga começou sua carreira artística no inicio da década de 1940, no Rio de Janeiro, manejando seu instrumento musical em circos, nas ruas, comícios políticos e até em bordéis, para chegar em algumas rádios cariocas e finalmente na poderosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro mostrando os ritmos nordestinos para o resto do país, principalmente o baião.
Em 1949, Luiz Gonzaga era um dos maiores cartazes do radio e da música popular brasileira, a altura de um Ary Barroso e Dorival Caymmi. O ritmo do baião chegou a ser mais concorrido que o próprio samba, que até então dominava o cenário musical brasileiro. Aonde se apresentava Luiz Gonzaga atraia multidões. E estudar o Nordeste ficou mais fácil para nós, alunos de tanto escutar aquele que ficou conhecido como o “Rei do Baião”.
Gonzaga aliou-se ao compositor e advogado Humberto Teixeira e ambos criaram algumas obras primas como: “Asa Branca” (considerada como uma das três maiores do cancioneiro popular brasileiro). As outras duas são: “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso e “Garota de Ipanema”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. O Baião é ou deveria ser o verdadeiro ritmo do Nordeste. Possui uma diversidade rítmica belíssima, muito mais que o xote, xaxado, e o forró. Infelizmente, talvez por causa do televisivo “Dança dos famosos” (TV Globo) o forró ficou agora mais conhecido. Mas o baião é muito mais rico pela sua variedade de harmonia.
Luiz Gonzaga cantava tanto as alegrias das festas populares como as agruras das secas. E no seu canto pedia a proteção dos Céus e dos governos de plantão para cuidarem dos flagelados. Segundo alguns críticos já na década de 1960, Gonzaga cantava com uma certa passividade. Mas os compositores novos dessa década começaram a colocar que o homem nordestino sofria tanto pela natureza como era explorado pelos donos da terra, latifundiários. O cinema novo brasileiro (“Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”), a música e o teatro de protesto denunciavam isso.
Em 1955, Luiz Gonzaga veio pela primeira vez em Itapetininga. Apresentou-se no Cine Olana, na Monsenhor Soares, lotadíssimo. Foi recebido como um rei.

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