“Sensíveis, os músicos sabiam da importância da vida cultural e social da cidade, pois desde o início da Primavera até o final do ano aconteciam os bailes mais concorridos, sabiam que nos bailes as músicas promoviam fortes emoções”, escreveu certa vez o amigo Luiz Pires de Abreu. Uma pena. Dezenas de orquestras desapareceram.
As orquestras eram tantas que fizeram moda e lágrimas nos anos 1940, 1950, 1960 e início de 1970, animando encontros e fornecendo a trilha sonora para flertes, romances e separações e até trocas de tapas entre rivais. Este fenômeno se deu no mundo todo, das metrópoles até os lugares mais distantes. Em Itapetininga não foi diferente, embora, ainda que as orquestras de Glenn Miller e Benny Goodman nunca tivessem aparecido aqui e esta cidade, com as orquestras de Venâncio Ayres e Pan América deram charme ao chamado “anos dourados” a uma geração que hoje ultrapassa os 80 anos.
Como em Itapetininga, na maioria das cidades, o baile constituía a única diversão semanal ao lado do cinema, quando havia teatro na região. Os grupos se formavam para servir aos clubes das comunidades, como São Miguel Arcanjo, Capão Bonito, Sarapuí, Angatuba e outras.
Entre os grupos desaparecidos que marcaram o tempo figuraram as orquestras Cacique de Pinhal, Sul América de Jaboticabal, Antenor e sua Orquestra de Paraguaçu Paulista, Otto Vei da capital e a celebrada Chocolate de Santo Anastácio. De Itapetininga, a Pan América regida pelo maestro Edil Lisboa, a Venâncio Ayres do maestro Benedicto Pompeu de Jesus, a Cruzeiro do Sul de Caetano Ianaconi e a Orquestra Sinfônica Santa Cecília. Uma das orquestras mais populares era de Birico, de Campinas, liderada por um baterista negro. Como Birico, os integrantes do conjunto tinham uma intuição da música, não sabiam ler partituras e elaboravam os arranjos de ouvido.
Muitos ainda se lembram muito bem que o baile começava às 22 horas e tinha hora para terminar, geralmente às 4 horas. Os jovens se vestiam com o melhor traje e o ambiente era tomado pela expectativa da “paquera”. Os casais chegavam no salão mesmo antes do início da dança, para ouvir a maior atração da noite: a orquestra. Ela fazia um pequeno show de abertura com direito a solos, coreografias e movimentos de “senta-levanta” dos sopros.
A Birico, de Campinas, preludiava com a abertura da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes. A Nelson de Tupã adotou a canção “Don’t Be That Way” para dar a largada da maratona de dança. A Cassino de Sevilha, vinda da Espanha, preferia “Num Mercado Persa”.
Depois do show, os casais tomavam a pista dançavam ritmos animados, vinha a seguir – em sequência – melodias vocais lentas, a cargo do crooner para dançar junto. Não podiam faltar uma briga entre rivais, troca de bilhetes amorosos, o primeiro beijo ao compasso do samba “Marina”, de Dorival Caymmi. Os ritmos da moda eram boleros, mambos, samba-canção, rumba, samba e baião. Em meados de 1950, Cuba, mandou o chá-chá-chá, sendo então que o mundo mudou e os conjuntos rock in roll derrubaram as big-bandas, a diversidade dos passos e o charme dos bailes com orquestras.
Em meados de 1960 as emissoras de TV mantinham orquestras com componentes que vinham das velhas orquestras do interior. De Itapetininga, atuaram em orquestras paulistas Zezinho Camargo, irmão do professor aposentado Oscar de Oliveira Camargo Bodo baterista, Cauchiolli, de São Miguel Arcanjo, Arruda Paes, Expedito e entre outros, o saudoso “Tostão”, que integrou orquestras do Rio, com sua concertina.
O gosto musical se alterou e quase todas as orquestras sumiram do mapa. Mas sobrevivem na lembrança dos que dançaram aos sons dela, e agora o público antigo, que ainda promove baile, como no Recreativo local, se vê dividindo alegremente o espaço com novas gerações.
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