Os circos que se perderam ao longo do tempo

Foi num tempo que já desapareceu nas brumas do passado, que nosso grande poeta popular, Nhô Bentico em pleno picadeiro, declamou sua poesia Juão Paiáço, a história de um pai que, ao ver a filha morta pelo proprietário do circo em que trabalhava, carrega seu corpo e frente ao público se suicida, provocando grande comoção no espetáculo. Abílio Victor que, durante dezenas de anos, encantou Itapetininga, através da antiga rádio Difusora-PRD9, por diversas vezes pisou em picadeiros dos circos que passaram por esta cidade, competindo com os cinemas existentes, São Pedro, São José e Ideal, posteriormente Olana.
Com frequência razoável de público, mas sempre aplaudidos, alguns denominados “Pavilhão” ou Circo, poucos ostentavam pequeno luxo e pouca suntuosidade, enquanto a maioria demonstrando pobreza com a lona toda remendada e madeira quase apodrecendo, instalava-se, não só na periferia, como na parte considerada central da cidade. No bairro da Aparecida, hoje a rodoviária, como no Largo do Pedrinho Rosa ou na Praça Washington Luiz (em frente ao Colégio Imaculada Conceição), os de pequena projeção se apresentavam no antigo Paquetá, ao lado do cemitério, outros nas imediações da igreja São Roque e alguns na rua Dr. Coutinho, local atualmente ocupado pelo Itapetininga Shopping.
Na Vila Arruda, o circo do Linguiça, sem trapézio e com bailarinas, o palhaço se constituía na principal atração, enquanto o Guaraciaba, com trapézio e contorcionistas, acrobatas e animais, tinha como ponto alto e eletrizante a presença de um espectador, que voluntariamente se candidatava para entrar na jaula e enfrentar o “rei das selvas”.
No espaço onde o Mercado Municipal se encontra construído, em várias ocasiões, os circos Irmãos Rabattini, Irmãos Martins, Oni, Irmãos Jairo, Orlando Orfei, o tradicional Garcia e outros de igual quilate, apresentavam atrações “sensacionais e de suspense”, como os “Ases do Guidão-, montando suas possantes motocicletas que giravam na grande esfera de ferro, conhecida – até pelas crianças – como o “Globo da Morte”.
Junto com a exibição no picadeiro, famosos artistas do rádio e televisão se apresentavam “vindos diretamente do Rio e São Paulo”, como anunciavam os alto-falantes colocados em carros de som que percorriam as ruas, conclamando a população a prestigiar o espetáculo. Tonico e Tinoco, Nhãna – cantora sarcástica que alfinetava os costumes e políticos da época – Pedro Bento e Zé da Estrada, Zé Fortuna e Pitangueira, Cascatinha e Nhãna, Lio e Léu, fizeram a alegria de todos que vivenciaram aquela época ingênua e alegre.
Geralmente os circos ou “Pavilhões”, como grande final exibiam “dramas”, peças de teatro, eletrizando a atenção dos presentes e levando-os às lágrimas “tal a emoção e paixão que nos ofereciam”, “Paixão de Cristo”, “Um Deus Dormiu Lá em Casa”, “As Ondas do Mar Vão e Vêm”, “Paixão Cruel”, “A Morte Veio de Longe”, “Ferro em Brasa”, “Coração de Mãe” e outras, de teor folhetinesco, eram interpretadas por artistas do próprio circo, ou então tendo como coadjuvantes astros que residiam em Itapetininga. Foi o caso de Celso Araújo e sua esposa Geralda e os filhos do casal que participaram com brilho em várias peças encenadas, assim como João Simões, Celso e Jair Badim.
Roberto Andreoni não perdia um só espetáculo do Guaraciaba. O ator Hamilton Fernandes, da extinta TV Tupi, principal personagem da novela “Direito de Nascer”, trabalhou várias vezes naquele circo, com “desempenho magistral e comovente”.
Luiz Honório de Oliveira, o nosso Filisbino, também, por décadas, participou de dezenas de circos que aportaram em nossa cidade. Conta, que quando chegavam em Itapetininga, os diretores dos espetáculos já o procuravam para a sua participação. Filisbino cantou, contou piadas, foi palhaço e muito mais. Mais um artista da terra que sempre amou o picadeiro. Hoje, raros são os circos que visitam a cidade, mas eles não mais possuem o romantismo de antigamente e pouco interesse despertam na população.

Extraído do livro “Vivas Memórias”, volume 1

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