Outubro de 1958. O ano era “dourado”, mas naquele mês, Itapetininga viveu uma semana dramática e foi foco de noticiário na “mídia” estadual e até nacional como nunca se tinha visto antes. Tudo por causa da empresa de energia elétrica que emperrava o progresso da cidade. Itapetininga era mal iluminada e a todo momento interrompiam-se as aulas noturnas no então Instituto de Educação “Peixoto Gomide”, na Escola Técnica de Comércio, na rua Saldanha Marinho, no “Ginasinho”, na Silva Jardim e nos cursos de alfabetização de adultos dos estaduais “Adherbal” e “Fernando Prestes”. Dai os estudantes, a maioria, revoltados, saíam em passeatas de protestos pelas ruas, segurando simbólicas velas. As sessões cinematográficas dos cines São Pedro, na Campos Salles, São José, na Venâncio Ayres (hoje: Banco do Brasil), Olana (depois Itapetininga) na Monsenhor Soares e Aparecida do Sul (depois fábrica “Magister”) eram constantemente interrompidas pela falta de luz. As ouvidíssimas novelas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro (naquela época não havia retransmissão de televisão na cidade), saíam do ar. As ruas escuras…Era demais! Numa bela noite de outubro aconteceu então o quebra-quebra na empresa, geradora de luz, na avenida Peixoto Gomide. O povo estava enfurecido. Foi o caos. E na mesma semana, por causa dos prejuízos o Cine Olana, o mais frequentado (a sessão da sete da noite, aos domingos, eram chiquérrimas) resolveu aumentar seus preços. Audácia!
Os estudantes, então resolveram fazer “fila-boba” (na bilheteria pergunta-se o preço, não se compra a entrada, volta-se para o final da fila e assim vai…). Tumulto. Por tudo isso chega o D.O.P.S. (Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo). Bombas, correrias. Pânico. Parece uma guerra na frente do cinema da rua Monsenhor Soares.
E tudo isso culmina com o aniversário do Clube Venâncio Ayres, “Baile de Gala”, com “smoking” e vestido longo. Orquestra de Silvio Mazzuca, uma das melhores de São Paulo e do país. Dizia-se “a boca pequena” que os comunistas da Estrada de Ferro Sorocabana daqui iriam invadir o Clube, à cavalo para piorar ainda mais a situação.
Mas, o grande baile transcorria bastante animado no primeiro andar no salão de festas. Até que do bar da entidade, no térreo (próximo a escada que subia até o palco) veio um barulho enorme. Uma briga qualquer, com copos e garrafas quebrados, possivelmente entre os rapazes daqui e de Tatuí, como era tradição da conhecida rivalidade. Mas não para uma digníssima senhora da sociedade itapetiningana, que levantou-se, chacoalhando os braços repletos de pulseiras e gritando: — “os comunistas!”. Para a aflita senhora, eram eles que estavam chegando…