Os natais de Flávio

Embora o fabuloso Luiz Fernando Veríssimo, em uma de suas saborosas crônicas, houvesse dito que “sobre os Natais já se escreveram tudo”, voltamos palidamente ao tema, porque é o assunto.
Convém recordar que esta é a época das compras avassaladoras, tanto na 25 de março, no Brás, na capital, como na Campos Sales, ruas adjacentes e shopping de Itapetininga. É o tempo que desperta o Papai Noel que cada um de nós traz dentro de si, tornando-nos mais brandos com o semelhante e generoso com todos. Assim pensava e agia o nosso comum amigo Flávio (omitimos o sobrenome porque não fomos autorizados a revelá-lo). Ele gostava de rituais, de festas. E, dentre todas, sua predileta era o Natal. E o Natal incluindo tudo: a confusão nas ruas, trânsito engarrafado (embora tivéssemos poucos veículos na cidade, isto já ocorria), as lojas cheias, as festas no trabalho e na escola, as brincadeiras do amigo secreto. Tudo, não discriminava nada. Se era para celebrar, que fosse de forma completa – e tradicional.
Flávio chegava a fazer dieta durante os dois meses que antecedem o evento para comer todas aquelas comidas maravilhosas. Comprava folhas de papel de celofane colorido e fitas para embrulhar presentes. Armava árvore de Natal com pinheiro de verdade (da Fazenda Branco) e só bolas vermelhas. Deixava para comprar os presentes na última hora, porque achava que “assim é que tinha graça”. Seus amigos diziam que ele era maluco. Não entendiam que, para ele todo burburinho de fim de ano era parte do ritual. E ele gostava de rituais…
Filho de conhecida e tradicional família desta cidade, Flávio encontrava-se no último ano do magistério e, no mês de dezembro, quando até o ar se modificava, ele permanecia vidrado não só no Natal, como na passagem de ano, sempre comemorado durante a Festa da Aparecida, onde festejava com vários amigos, como Iço, Renê, Tanaka, Jorge, Domingos, Murat e outros colegas de classe e de noitadas memoráveis.
Tudo neste mês era diferente. Calor úmido, um aroma de frutas, principalmente quando se passava na antiga charutaria do Issa Bittar, vozes várias que se elevavam no ar, buzinas e o som do alto-falante do Largo dos Amores. Flávio, sem dúvida, adorava tudo isso.
Na época, os bares estavam cheios e os clubes, ex-Operário, Venâncio e 13 de Maio, borbulhavam com brincadeiras e a presença de todos os segmentos da sociedade. Ele fazia listas de compras. Uma só de presentes, outras só de “coisas a fazer” e uma terceira de ingredientes para a Ceia de Natal, para recuperar os dois meses de dieta. Gostava e muito, neste mês, de caminhar pelas ruas da cidade, para olhar as lojas e o comércio em geral – “comprar só depois”. Passava pela Casa das Novidades, de Alfredo Abdala, na praça dos Amores; na Loja de Tecidos, de Riskala João; na Casa Paulista; na loja de Daher Chamie e Moucachen, olhava as vitrines e o movimento da padaria de Emílio Nastri, a loja de Elpídio Abujamra; nas fabulosas Casas Salero; na Casa do Povo de Moshe; na Casa Armênia, além de outras de extrema importância, todas devidamente enfeitadas para a época.
Por muitos e muitos anos esta era a rotina de Flávio, agora um professor aposentado, que via no Natal uma grande data da humanidade e a maior festa que encantou sua mocidade, quando aqui residia. Anos atrás, ele esteve na cidade, justamente agora em dezembro. Ele que amava a cidade, nas suas minúcias e na sua grandiosidade, voltou para casa, agora em Vargem Grande, onde exerceu o cargo de Secretário da Educação do município. Voltou muito triste, com a sensação de que perdera alguma coisa neste Natal: não encontrou mais nenhum dos estabelecimentos de outrora. Os cinemas se transformaram em estacionamentos, os bares não existem e o conhecido, quase internacional Bar São Paulo, com seus pastéis inesquecíveis, desapareceu e a Rodovia, em mero local de estacionar veículos e base sem luz para moto taxistas. Com uma certeza ele ficou: “o tempo não para”.

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