Voltar é ir ou dirigir-se ao ponto de onde partiu; regressar. Ex. O navio voltou ao porto. Voltei a Portugal, dez anos depois de conhecê-lo. Ir é passar, mover-se ou deslocar-se de um lugar para o outro. Ex. José viajou e eu irei também. Ir-se embora, no sentido de retirar-se, partir. Explico o emprego de tais verbos, uma vez que Jesus disse a Nicodemos: “Ora ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do homem que está no céu”. (João 3:13) Antes de entrar no assunto, propriamente, mais uma explicação: O cristão reformado não acredita em vidas passadas, visto que aceita a Bíblia como única regra de fé e prática. A Sagrada Escritura não fala de vidas passadas, reencarnação, afirma que aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois o juízo final. Com todo respeito, caro leitor, leia Hebreus 9:27. Há outras passagens que tratam do assunto.
Com a pandemia do vírus corona, muitas pessoas morreram, porém outras que foram acometidas pelo vírus conseguiram sobreviver. A sobrevivência, graças a Deus, foi maior, mas não deixa de ser grande e muito grande o número de mortos. Se fosse apenas uma pessoa já seria grande, visto que a morte causa uma tristeza enorme e deixa um vácuo incomensurável.
Morreu o presbítero Policarpo e alguém, ao noticiar o fato tão triste, disse: “O irmão Policarpo voltou para a casa do Pai”. Confesso que não fiquei consolado com tal notícia, uma vez que jamais ele estivera nos tabernáculos celestiais, portanto, como dizer que ele voltara de onde nunca fora ou estivera.
Compare, agora, a declaração de Cristo a Nicodemos, com o noticiário da morte do presbítero. Quando Jesus disse que ninguém subiu ao céu, quis dizer que ninguém subiu ao céu e desceu. Só ele, Jesus, subiu ao céu e desceu e subiu novamente. Paulo, inspirado por Deus, quando escreveu a sua carta aos cristãos filipenses, afirmou que “Ele, Jesus, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. João, o discípulo amado, referindo-se a Cristo asseverou que Jesus é o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade. Cristo, sim, quando morreu voltou para a casa do Pai, que é a sua casa eternamente. Foi em espírito ao levar consigo o ladrão que se convertera, depois da ressurreição voltou com o corpo humano glorificado.
A notícia do falecimento do Sr. Policarpo poderia ser dada da seguinte forma: “O Sr. Policarpo, presbítero, foi para a casa do Pai, uma vez que sempre demonstrou a sua fé na pessoa redentora de Jesus Cristo”. O eufemismo é verdadeiro, como os primeiros cristãos diziam, quando alguém da igreja falecia, ao registrar nas catacumbas de Roma: “O Sr. Justo dormiu no Senhor”.
É bom conjugar os verbos voltar e ir, pois um é da primeira conjugação e o outro é da terceira e são diferentes na acepção.