Outros tempos, outras palavras

Um grande amigo, agraciado com uma mente brilhante, tornou-se um incansável colecionador de termos já caídos em desuso completamente e significando situações hilárias. São palavras sonoras e marcantes utilizadas em épocas não muito distantes, mas que também são lembradas como engajadas no vocábulo popular.
Como acentua com desenvoltura o escritor Rodrigo Petrônio: “Pelos séculos as palavras gastam-se. Aderem às salivas. Correm nas bocas. Estiolam em papéis, papiros, atas. Iluminam as iluminarias, se eternizam nos livros, tratados, florilégios. Resistem em incunábulos e in-folios”.

O amigo em tela, conhecido na cidade, empresário bem sucedido, que chega ao estado atual pelos esforços próprios, diz não se referir às palavras ou provérbios novos e por vezes difíceis de serem entendidos, mas o “chulo”, aquilo que o povo entendia e compreendia o que se queria dizer.

Ninguém da classe culturalmente “menos esclarecida” entendia aqueles “elucidados” que dialogavam com pompas e circunstâncias, considerados intelectuais, sobre assuntos de alta relevância e “elevado nível”. Eram grupos pertencentes às classes liberais, professores e outros, de projeção na sociedade. Nas camadas mais populares, utilizavam-se, com frequência, expressões comuns. Para relembrar, especialmente àqueles de idade um pouco avançada, nada como apreender, de maneira geral, uma viagem com ditos que se destacaram nos meios de uma grande parcela da população.

“Pois é”, um início para narrar algum acontecimento, como no grande samba do imortal Ataulfo Alves: “Pois é, falaram tanto…”. Ou também para designar um carro velho encalhado. “Sossega leão” – quando determinava peremptoriamente que algum valente se acalmasse e ficasse na sua. “Nem te ligo” – para dar a entender que não dava a mínima importância para alguém. Uma das poesias do nosso grande vate sertanejo Nhô Bentico, utiliza no título uma expressão muito em uso na época: “Fazendo Fita”, designando pessoas fingindo algum mal para não realizar alguma coisa. “Guela abaixo”, àquele que teve que suportar ou engolir determinadas ofensas ou contrariedades, sem reagir. “Nem que a vaca tussa” – realização de algum empreendimento de qualquer maneira.
Prosseguindo nessas lucubrações vêm-nos à mente instantaneamente a frase: “Escreveu, não leu, o pau comeu”, traduzida como “se não for realizado o trabalho, o castigo virá sem dó nem piedade”. “Ché”, com versões diversas, como” não vem que não tem” ou “não me interessa”, e também “sai de mim violão!” “. “Canja para o Palestra”, coisa fácil de executar. Na época, o Palestra Itália, hoje Palmeira, constituía-se no maior time de futebol paulista. “Não vem que não tem”, termo taxativo de pessoa que não admitia “trapaças” ou qualquer outra confusão. “Almofadinha”: cidadão bem vestido, elegante, como os lembrados Astor Barth, Hermes Quarentei, Vicente Martins de Mello ou então o ínclito professor Fernando Rios. “Metido à besta”, intrometido, que interferia em qualquer assunto sem ser chamado, julgando-se superior aos demais. “Tá querendo ser” – os de classe mais humilde, quando trajando camisa ou calça nova era imediatamente ironizado por seus pares (com preconceito). Porque Casa Barth, porque Casa Armênia, ou Camisaria Ambrósio? Uma vez que naqueles idos esses estabelecimentos comerciais vendiam artigos de alto padrão e por preços inacessíveis aos menos favorecidos. “Jamé”: francês abrasileirado, definido como terminante negação para alguma espécie de acordo não desejado; “Não é pro seu bico”, referindo-se a alguém impossibilitado de conquistar ou ser aquinhoado com algo impossível de obter.

Não há dúvidas que existem outras citações possíveis de se acrescentar, mas as apresentadas fizeram parte de outra era, bem diferente da vivida atualmente.

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