Carlos estava sentado na poltrona com a perna direita descansando sobre o joelho da esquerda. Logo que me viu, levantou-se rapidamente, curvou-se, à moda japonesa, estendendo a mão direita para mim e, cumprimentando-me, pediu a bênção.
– Que Deus o abençoe e seja o seu conselheiro e iluminador, disse eu. Ele me agradeceu e, tomando assento, com a mão direita fez um gesto de fidalguia, pedindo para que eu me ajeitasse na outra poltrona. Logo em seguida, disse que estava matutando sobre a morte do cristão e fez uma pergunta que muitos já fizeram para mim. Disse ele, interrogando-me:
– Se o cristão já foi justificado por Deus, tendo como base o sacrifício vicário de Cristo, por que tem que morrer? A morte física não é uma punição divina?
Cofiei os poucos cabelos que tenho na cabeça e, olhando fixamente nos seus olhos,respondi, pesando as minhas palavras para não ofendê-lo. Usei os argumentos bíblicos e as explicações teológicas de Louis Berkhof.
– Carlos, na união mística com Cristo, o crente é levado a participar das experiências do Mestre. Assim como Jesus entrou em sua glória pelo caminho do sofrimento e da morte, os que o aceitam como seu salvador só podem tomar posse da sua herança eterna por meio da santificação. A morte completa a santificação da alma do cristão, de sorte que ele passa imediatamente a ser um espírito justo e aperfeiçoado. Li, nesta hora, Heb. 12:23 e expliquei o texto, assim como Apoc.21:27. Depois, ainda, disse que para o crente a morte não é o fim, porém o início de uma vida perfeita.
Nesta hora, caro leitor, eu me lembrei da minha cunhada Ivanilde Moreira Dantas, que alguns dias antes de sua partida, cantou e os seus filhos gravaram esta parte do hino: “Vivo por fé e ele, Cristo, me susterá.” Ela foi uma santa, mãe exemplar, esposa fiel e praticante das boas obras. Antevia, quando cantava hinos de louvores a Deus, a glória celestial e adentrou a morte com a certeza de que o seu aguilhão, referido pelo Apóstolo Paulo, já fora retirado por Cristo na cruz. Li I Cor. 15 : 55. A morte para a Ivanilde foi a porta do céu.
Carlos não se conteve e chorou comigo e, com a voz embargada, eu disse:
-Ela dormiu no Senhor no dia onze de setembro de dois mil e quinze e o seu corpo jaz no cemitério de Montes Claros. O seu espírito está gozando das delícias celestiais em Cristo. Li, pausadamente I Tes. 4:13 a 18. Carlos, eu vou embora, disse eu.
Eu me despedi e ele me acompanhou até o portão de sua casa. Saí com os olhos voltados para o céu, pedindo para que Deus concedesse o consolo para o Wilson, seu esposo, e para os filhos: Mafalda, Eneida, Rodrigo e Raquel. A dor da partida é grande!