Há pouco, alguém olhando a estátua de Anésia Pinheiro, localizada no Largo dos Amores, indagou, com imensa curiosidade: Quem foi essa senhora?
Pois, para aqueles que não sabem de sua história e para outros que desejam conhecer a vida de Anésia, ousamos escrever algo a seu respeito.
Primeira mulher brasileira a obter um brevê e também uma das pioneiras da aviação mundial. Recebeu em Montreal, no Canadá, a medalha Edward Warner, a condecoração mais cobiçada pelos pilotos internacionais. A carreira de Anésia teve a benção do Pai da Aviação, Santos Dumont, que lhe deu uma medalha de São Benedito – espécie de amuleto contra acidentes aéreos – um dia depois de ela ter voado sozinha num monomotor de São Paulo para o Rio de Janeiro, para comemorar a Independência do Brasil. Nessa época, o sonho de Anésia era vencer na vida pilotando aviões.
Sua paixão pela aviação aconteceu em 1920, quando um piloto norte-americano, Orton Hoove, visitou Itapetininga – sua terra e a convidou para dar um passeio em seu avião. Em março de 1921, ela voltou a voar, desta vez com um piloto brasileiro, o Capitão Busse, que a incentivou a adotar a aviação como profissão. Dois dias depois, Busse sofre um acidente aéreo e veio a falecer. Ela foi quem fechou seus olhos, e “aquilo me deu força moral para aprender a voar”, disse Anésia.
Foi então que ela deixou Itapetininga e se mudou para São Paulo com o objetivo de tornar-se aviadora. Nem tudo foi fácil, porém; “A maior dificuldade que encontrei foi o preconceito pelo fato de ser mulher, mas se eu ficasse na minha cidade (Itapetininga), o máximo que conseguiria era ser a mulher do filho do açougueiro”, dizia brincando Anésia. Ela foi casada com o Marechal-do-Ar Antônio Appel Neto, falecido em 1970.
Apesar de não pilotar mais, ela não abandonou a dedicação `aviação. Foi conselheira do instituto de Cultura e história da Aeronáutica, ligado ao ministério da Aeronáutica.
Antes de Anésia, somente 22 personalidades da aviação internacional receberam a já citada medalha Edward Warner, condecoração criada em 1938 pela Organização da Aviação civil Internacional, em homenagem ao primeiro presidente da entidade. Entre os agraciados, o único brasileiro até então era Rubem Berta, presidente da Varig na década de 1960.
A estátua de Anésia, no largo dos Amores, deve-se a campanha idealizada pelo odontólogo e agitador cultural Roberto Soares Hungria.
Anésia foi uma mulher independente, avançada e muito na frente de seu tempo.