Durvalino era seu nome. Nascera em Itapetininga e vivia com a mãe. Na cidade era conhecido como Dudu. Eu o conheci quando ele tinha trinta e quatro anos. Já era maduro, como se dizia, mas não se casara e achava que era moço. Para ele jovem era todo aquele que não se casava. Frequentava a Escola Dominical e, como era solteiro, não queria ser aluno da classe de adultos e sempre estava na sala dos jovens. O tempo passa rápido e faleceu com sessenta e cinco anos e sempre na classe dos jovens.
Coitado! Ele sofria da síndrome de adaptação à idade real. Dudu morrera jovem, pois passara para a outra vida solteiro. Como ele, há muitos que não aceitam a idade real e a velhice.
No Credo Apostólico, que é rezado por muitos e declamado por outros como uma pública profissão de fé, nas duas últimas declarações, diz: “Creio na ressurreição do corpo e na vida eterna. ”
Quando estive em Portugal, no ano de 2019, visitei a Igreja de São Francisco, em Évora. Na capela dos ossos, tanto as paredes como os pilares estão revestidos de alguns milhares de ossos e crânios, provenientes dos espaços de enterramento ligados ao convento. É lugar macabro, diante da beleza de outras partes, como a abóbada nervurada da nave, assim como a nave e capelas laterais, etc., etc. Como houve silêncio, diante dos ossos expostos, eu falei baixinho, mas todos os meus amigos de viagem ouviram: -No dia da ressurreição haverá um reboliço aqui. Alguns riram e outros duvidaram do fato.
Lembrei-me de Ezequiel, o profeta, e do vale de ossos secos. O profeta afirma que foi conduzido pela mão do Senhor para um vale de ossos secos e Adonai perguntou-lhe: “Filho do homem, acaso poderão reviver estes ossos? ” O profeta, sabiamente, respondeu: “ Senhor Deus, tu o sabes. ” A história é interessante, mas indo para o final, Ezequiel profetizou, segundo a ordem divina e “houve um ruído, um barulho de ossos, que batiam contra ossos e se ajuntaram, cada osso ao seu osso. ” O profeta olhou e “eis que havia neles tendões sobre eles; mas não havia neles o espírito. ” (Ezequiel 37) Por fim veio o espírito e viveram, formando um exército numeroso.
O livro de Ezequiel serviu de inspiração para Machado de Assis, na sua obra “Dom Casmurro”.
Paulo, o apóstolo, defendeu a tese da ressurreição dos mortos. Afirma o apóstolo que assim como Jesus morreu e ressuscitou, assim ressuscitarão todos aqueles que creem nele. Eis as palavras paulinas “ipsis verbis”: “Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. ” I Cor. 15:22) diz ainda o apóstolo, que todos os cristãos receberão um corpo glorioso, incorruptível e imortal.
É por isso que o homem não aceita a velhice e a morte. Deus colocou no coração humano a eternidade. (Eclesiastes 3: 11) Vieira disse, num sermão: “Todos nascemos para morrer e todos morremos para ressuscitar. ” (volume II, página 188)
Dudu não aceitava a velhice e achava que era sempre jovem, pois não havia se casado. Coitado do Durvalino.