Há muitos anos, em célebre reunião no então Clube Operário (hoje Recreativo), um homem de meia idade, um pouco robusto diante da pequena protuberância, quase calvo e bem trajado de terno linho branco, falava um português mesclado com sotaque estrangeiro. Os ouvintes, todos provindos do “doce Líbano”, mas chamados aqui de turcos, ouviam, contristo, o “patrício” entoando em sensível declamação: O Líbano é um mino, uma joia incrustrada entre a areia do deserto e a orla do Mediterrâneo. É um espelho que reflete o firmamento: a brancura da nuvem na neve nos cimos dos “srune” e azul do céu na transferência das águas do “Litane”…
“É uma cordilheira verdejante e florida, onde os beijos do sol, derretendo os flocos das neves, transformam em riachos que sulcam suas encostas, como veias de cor límpida, prateada e cristalina”.
Era Alexandre Scander, morador em Itapetininga, que estava sendo homenageado em vista de estar prestes a regressar ao seu Líbano, após permanecer por muitos anos no município.
Naquela memorável data encontravam-se presentes quase todos árabes residentes neste Município: famílias Salem, Kalaf, Ozi, Isaac, Lotfi, Said, Assaid, Baida, Nagib, Abuázar, Farah, Chamie, Abib, Yared, Zacarias, Ayub, entre outras e inclusive famílias armênias como Bazarian e Sabodjean.
Os familiares de Alexandre encontravam-se no Líbano. Aqui em Itapetininga, ele residia com seu parente Gabriel Zaidan, na rua Silva Jardim e estabelecido com alfaiataria, na Campos Sales, considerado um grande profissional do ramo.
Rentista, Alexandre conduzia sua vida com certa tranquilidade, frequentando, por vezes, o Clube “Venâncio Aires”, apreciando e frequentemente apostando pequenas quantias no jogo carteado que se realizava naquele clube.
Gabriel Zaidan, com sua família – hoje apenas Lourdes Zaidan – considerado um mestre no ofício que desempenhava, tratava com todo carinho, gentileza e atenção o “patrício e parente”. Sempre os dois eram vistos caminhando lentamente e trocando ideias pelas ruas da cidade ao entardecer, mas sempre discorrendo sobre a “terra natal” e a saudade que sentiam daquele longínquo país.
Aconteceu, também naquelas priscas eras, que um cidadão local, comerciante dos mais poderosos, por circunstâncias financeiras teve que entregar o majestoso prédio (hoje Banco Santander) a Alexandre, então único patrimônio do poderoso comerciante. Esse valioso e belo edifício, construído pelo arquiteto Abrão Saco, com dois pavimentos, abrigou na ocasião estabelecimentos variados: confeitaria – de Carpinelli, farmácia de Pedro Matos, sorveteria – na parte térrea e na parte superior serviu como Delegacia de Polícia, Centro de Saúde e Tabelião pertencente a Fraterno de Melo Almada.
Alexandre ,tempos depois, vendeu o valioso imóvel, que ornamentava também o Largo dos Amores para o governo do Estado de São Paulo , onde foi instalada a agência do Banco do Estado de São Paulo (Banespa).
Com a substancial quantia em seu poder, Alexandre, eufórico e plenamente satisfeito, decidiu voltar para o “seu Líbano”. Despediu-se, com grande tristeza, de seu bondoso anfitrião Gabriel e dos amigos. Seguiu para a capital paulista e de lá dirigiu-se a Santos, onde embarcaria para sua sonhada Beirute. Quase não acreditando na viagem, de tão feliz que estava, Alexandre, ao atravessar a rua Ana Costa, em Santos para embarcar, foi atropelado por um bonde elétrico, tendo morte instantânea, que deixou frustrado seu desejo de regressar à Pátria Amada.
Falecidos da Semana
13 DE DEZEMBRO DE 2024 ESTELA DE ALMEIDA ESPOLAOR DATA/LOCAL DO FALECIMENTO: 13/12/2024 ÀS 00:38 HS EM ITAPETININGA-SP IDADE: 100 ANOS PROFISSÃO: APOSENTADA ESTADO CIVIL: VIUVA DO SR. MARIO ESPOLAOR...