Recomendado por Alberto Isaac, cronista deste “Correio de Itapetininga” li, recentemente, o livro “O Anjo Pornográfico”, autoria do jornalista carioca Ruy Castro, editora Companhia das Letras, São Paulo, 1992 (uma das edições), sobre a vida do dramaturgo, romancista e também cronista Nelson Rodrigues, obra essencial para quem quiser saber sobre a vida cultural e política do Brasil, em várias décadas do século vinte e, logicamente sobre Nelson, considerado autor maldito (e incompreendido) durante muito tempo e hoje, um dos gênios deste país. Principalmente por suas peças teatrais como “Vestido de Noiva”, encenada em 1943, pelo grupo Novos Comediantes, do Rio de Janeiro, encenação que praticamente inaugura o teatro moderno brasileiro. E textos folhetinescos como “A vida como ela é”, escrita, em capítulos na imprensa carioca. Roteiros cinematográficos como “A dama da lotação” e “Engraçadinha” entre outros, além de crônicas futebolísticas consideradas, algumas, obras primas (ele, fanático pelo tricolor carioca, o Fluminense).
O autor da biografia de Nelson Rodrigues, o também autor de livros, Ruy Castro, conta, no final de sua obra, o quanto foi difícil selecionar tanto conteúdo pesquisado para compor “O Anjo Pornográfico”, pois além do personagem principal, outros elementos do clã Rodrigues (de origem pernambucana) possuíam também uma vasta vida cultural. O Pai de Nelson Rodrigues, Mario Rodrigues foi proprietário do jornal “Crítica”, no Rio de Janeiro, que, em pleno 1930 apoiava o presidente da república Washington Luís e o itapetiningano Júlio Prestes de Albuquerque, líderes do Partido Republicano Paulista (o PRP) contra os ataques da Aliança Liberal liderada por Getúlio Tornelles Vargas e que era apoiada por quase toda a imprensa do Rio de Janeiro. No final deu Getúlio Vargas e a “Revolução de 1930” (ou “Golpe” para alguns historiadores), como vocês devem saber. E o irmão de Nelson, o desenhista Alberto Rodrigues, assassinado aos vinte e tantos anos, na redação do jornal da família, por engano, no lugar do pai. E outro irmão de Nelson, o homem de imprensa, Mario Filho, baluarte no setor esportivo, e um dos maiores incentivadores para a construção do Estádio do Maracanã, em 1950. Tanto que o estádio carioca recebeu o seu nome.
Mas voltemos a Nelson Rodrigues – uma vida sofrida, com saúde precária, muitos problemas familiares e autor de peças teatrais consideradas imorais pela rígida “civilização judaico-cristã” dominante. Anticomunista convicto, apoiando a ditadura civil-militar de 1964 (mas seu filho Nelsinho, tornou-se guerrilheiro e foi torturadíssimo pela ditadura). Por seus escritos, Nelson foi considerado uma ameaça à família brasileira (mas, em suas peças, ele, profundamente, queria o bom conceito dela). Enfim, uma vida contraditória, senão ele não seria Nelson Rodrigues. Um homem que sempre residiu no Rio de Janeiro e que nunca saiu do seu canto. Andava (sempre) de bonde, era “pão-duro”, teve perdas enormes em sua vida, mas nunca deixou de ter esperanças.
Se Nelson Rodrigues morasse aqui em Itapetininga, certamente frequentaria aquelas farmácias, principalmente da rua Campos Salles, em que podia-se sentar para um “bom papo” (hoje, nem elas existem mais) e saborearia um bom pastel com caldo de cana na feira livre da avenida Peixoto Gomide. Com certeza seria assíduo do “Senadinho”, saguão dos aposentados no Clube Venâncio Ayres no Largo dos Amores. E não esqueceria do guarda-chuva e de seus queridos cigarros “Caporal Douradinho”.