O ano; 1945; a Escola: “Peixoto Gomide”; a Classe: 3º Normal; a Matéria: Português; o professor: Seu Graco.
Não sem razão lembramos, com gratas satisfações de uma das magistrais aulas de Português, ministrada então pelo competente e inesquecível catedrático professor Graco da Silveira.
Na classe era considerado como um verdadeiro ídolo pelos alunos, que o respeitavam e o admiravam carinhosamente e procuravam absorver as aulas que ministrava com sapiência e metodologia acessíveis a todos.
Eram aproximadamente 40 alunos e dentre eles destacavam-se Edson Galvão (filho do Professor Péricles Galvão), Washington Luiz Ramos (Tonzinho); Clóvis Machado e Ernani Silva (de Itararé), Paulo Mendes, Og Rodrigues de Lara, João Barreto, Frederico Simões, Amaury Carvalho, entre outros.
O professor Graco, conhecedor profundo da língua portuguesa, além de impor a absoluto respeito (sem tirania), aplicava sua aula com ênfase e intenso amor.
Transmitia as lições com facilidade e “rápida compreensão pelos alunos”. Um mestra que Itapetininga elegeu como um dos maiores professores da nossa língua, de todos os tempos.
Uma das aulas que recordamos (com imensa saudade), foi quando um aluno perguntou sobre a seguinte sentença: “o presidente me colocou a sua indignação”.
Então, o professor Graco, do alto de sua capacidade detalhou: “o verbo colocar virou modismo, não só na fala de grande números de pessoas, mas principalmente na fala de políticos”. O verbo colocar vem do latim e significa “pôr”: pões ao lado de. Pôr suavemente, pousar … segundo a origem da palavra o usado verbo colocar só é apropriado quando se fala da disposição de algumas coisas em determinado lugar. Portanto “colocar a bola na marca do pênalti e colocar o vaso em cima da mesa. Assim sendo, não se justifica o desengonçado “colocar em pratica”. Devemos simplesmente “pôr em pratica”.
E continuava o professor Graco…se o verbo pôr anda esquecido, pior acontece com o verbo “botar”. Esse parece que foi banido de nosso vocabulário. A cozinheira que antes “botava água no fogão, agora prefere colocar água no feijão. E a pobre galinha que antigamente preferia pôr ou botar ovos, agora é obrigada a colocar ovos, em breve, a galinha poedeira será substituída por “galinha colocadeira”, brincava o fabuloso professor Graco.
Prosseguia então o ínclito mestre: “o excessivo uso do verbo colocar é uma comprovação da nossa pobreza vocabular. Podemos citar uma infinidade de exemplos em que o verbo colocar vem expulsando muitos outros verbos, comprovando essa tese. Em vez de calçar as chuteiras, colocar as chuteiras; em vez de “atear fogo na casa, colocar fogo na casa, e assim por diante”
Assim conduzia suas aulas, com categoria, competência, cativando os alunos que tiveram a felicidade de tê-lo como “grande professor”.