Por: Mayara Nanini
Existe uma magia por trás de toda criação artística que não é possível mensurar em palavras, apenas em sentimento.
É até arriscado tentar demonstrar a catarse, já que tudo depende do entendimento do leitor, mas seria muito egoísmo guardar em meu íntimo algo tão divino.
Logo, com o coração cheio de carinho, me arrisco em discorrer algumas palavras sobre a magia em forma de peça teatral que a Igreja São Roque apresentou ao público Itapetiningano, nos dias 21 e 22 de dezembro.
O nascimento de Jesus Cristo é uma data importante para a humanidade. Ele retrata o envio do Salvador que resgataria seu povo. É a luz de quem só andava nas trevas e a cura dos mais oprimidos. Logo, retratar os fatos que envolvem seu nascimento é reviver, com ternura, o amor que essa história tanto guarda.
E aqui, não tratamos de religião, mas da vivência de fé, seja pelo “sim” de Maria, pelo coração de José ou ainda pela gratidão de Isabel.
No momento da apresentação, o altar da igreja foi transformado em um palco de madeira com formato de cruz. A iluminação arrancou suspiros e a sonoplastia contou com música ao vivo, onde os próprios atores se desdobraram para encenar, cantar e tocar.
Fato é que o texto bíblico do nascimento de Jesus é recontado de geração em geração, sendo possível identificar até mesmo as falas e cenas retratadas. Ocorre que, a Cantata aqui citada, rompeu a barreira do óbvio e trouxe a poesia um tanto quanto perdida em decorrência do conhecimento geral.
A beleza foi tamanha que era possível dizer nunca ter visto as falas já tão lidas. Enquanto o coração muito sentia, as palavras do público perderam o som. Só foi possível se deliciar-se com a leveza de como a história passou a ser retratada.
No centro do palco dois anjos – com um figurino nada clichê – abrilhantaram o espetáculo. Podemos dizer que Jussara Chiavegato e Tamara Chiavegato são duas atrizes e cantoras impecáveis que, unidas, ganham uma força ainda maior. De forma sincronizada a voz de cada uma ecoou em timbre diferenciado. Elas conseguiram, por meio do talento e brilhante direção – mesmo em pouco tempo de ensaio – fazer da diferença de cada uma, algo marcante. Enquanto a voz de uma se entrelaçava na voz da outra, a mensagem parecia ter vindo do próprio céu.
Outra característica marcante foi a expressividade do elenco. Não se tratava de um simples teatro, onde precisariam citar as citações dos personagens bíblicos. Os atores sentiram e apreciaram cada palavra, fosse em forma de fala ou em canto.
É preciso fazer um adendo de que essa peça teatral conseguiu retratar também a vida dos pastores que tanto esperaram por um milagre. Na vida simples do campo viram uma estrela pungente e se encheram de alegria com a notícia do nascimento do grande Rei.
Sabemos que Natal é tempo de acolhida, principalmente, daqueles mais humildes que tanto precisam de luz. Tal mensagem foi inserida na Cantata de forma muito tênue e com brilhantismo, de tal forma que parecia compor a própria linha temporal dos acontecimentos que já conhecemos por décadas.
O grande poder da apresentação consistiu justamente em surpreender com algo que já se conhece e acender a magia de forma diferenciada.
Em verdade, a sensibilidade do diretor Milton Cardoso fez com que o verdadeiro sentido do natal fosse despertado em nossos corações. Quando todos esperavam um bebê em carne e osso, o elenco nos presentou com a luz que emana do nosso menino Jesus.
A igreja, antes escura e sedenta, se transformou em um rebanho iluminado. Atrás das chamas, olhares agradeceram por um momento tão enriquecedor e acolhedor.
Só não ama a arte quem nunca foi apresentado a ela do jeito certo. O trabalho do artista é árduo e dolorido, mas a Cantata conseguiu atingir tal objetivo.
Inexiste outro sentimento para retratar esse elenco (e aí também incluo direção, figurinista, atores, músicos, iluminação, o Padre Ivan e fiéis que auxiliaram na organização), que não seja AMOR.
Por meio do amor existe doação e, consequentemente, através dessa dupla, o público foi capaz de perceber que o natal está vivo em nossos corações. Há uma magia no milagre vivenciado por Maria e Isabel, assim como na missão destinada à José.
Não é preciso muito para recontar histórias, mas é necessário ter sensibilidade para prender um público que “busca o que já sabe que será contado”. Mais do que isso, é ter a capacidade de recontar histórias em forma de poesia.
Há muito o que ser dito e vivenciado no Natal, e esse muito foi sintetizado em poucos minutos, de forma bastante singular.
A magia do natal ressoou na igreja por intermédio da expressão artística de pessoas que fazem arte com o coração, sendo então essa história tão linda de Jesus recontada da forma mais sublime que eu não seria possível imaginar.
Itapetininga agradece por esse momento mágico e gratuito que abrilhantou a véspera de natal.
Torcemos para que nossos artistas sigam recontando histórias por meio do amor e que sempre exista um público sedento para aplaudir a beleza que ressoa da alma.
Que o Natal de cada um tenha sido repleto de luz e que 2024 possa ser ainda encorajado pela inspiração que gera a arte.