Gabriel Lara, artista, arte educador, ativista dos direitos humanos, sonhador convicto e um amante do audiovisual.
MANHÃS DE SETEMBRO (2021) – Muito além que a obrigação de ser uma obra de representatividade e focar nos conflitos enfrentados dia a dia por pessoas da comunidade LGBTQIA+, em situação de risco e pobreza, a série nos transborda e acaba nos mostrando uma história sobre família e acolhimento. A narrativa que leva como título uma música da cantora Vanusa, nos apresenta uma mulher preta, pobre e trans no país que mais mata pessoas como ela. Cassandra, a protagonista, deixa de lado aquele heroísmo romântico e acaba facilmente caindo na antipatia, quase como uma anti-heroina e nos dá um recorte de um retrato real, visceral e poético de muitas jornadas e relacionamentos. Disponível: AMAZON PRIME.
BOY ERASED: UMA VERDADE ANULADA (2018) – Baseado nas memórias de Garrard Conley, o filme é centrado no tipo de conflito que muitos jovens gays já passaram, ainda passam e possivelmente podem continuar passando com seus familiares e suas doutrinas. Muitos de nós levamos tempo para entender quem somos e como devemos e podemos nos expressar, o filme narra justamente esse desenvolvimento do personagem, que só após ser testado com métodos de negação e de tortura psicológica, conseguiu se desvincular da culpa, e com o apoio um tanto tardio de sua mãe, teve estrutura para seguir sua vida. Disponível na NETFLIX
POSE (2018-2021) – Criada por Ryan Murphy a série acaba tendo a missão de transportar quem assiste diretamente para NY nos anos 80 e 90 no cenário de uma comunidade LGBTQIA+ afro-americana. Tendo como plano de fundo a cultura do Ballroom, espaço no qual surgiu o Vogue, estilo de dança apropriado por Madonna em sua música, aconteciam competições entre as Casas, sendo elas uma espécie de família. Eram compostas por pessoas da comunidade que foram expulsas de seus lares, renegadas por familiares, porém, acolhidas e exaltadas dentro desse novo contexto familiar. A sede de disputa entre as Casas, acabava sendo algo exclusivo de assuntos relacionados aos bailes, pois em qualquer situação de vulnerabilidade de algum integrante daquela comunidade, o apoio se fazia presente, deixando de lado qualquer rivalidade. AIDS, transfobia e o racismo são os principais temas abordado durante as três temporadas da série, composta por um elenco majoritariamente trans, dando visibilidade e voz para esses corpos. Disponível na NETFLIX
HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO (2014) – A narrativa acontece em um contexto escolar, apresentando adolescentes e os seus conflitos presentes nessa fase. Além de firmar a representatividade, é também inclusivo em colocar como protagonista um jovem com deficiência visual, sendo a partir desse contexto que é desenrolado toda a trama do longa-metragem. A falta de representatividade na minha infância e adolescência foi muito grande, porém, esse filme acabou mudando essa condição. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, além de ser uma obra 100% nacional e exaltar nosso cinema, ele tira o Gay de um contexto da obrigatoriedade de divertir, “de fazer rir” e mostra uma jornada real de aceitação, amor próprio e respeito. Disponível na NETFLIX
VENENO (2020) – Minissérie baseada na biografia de Valéria Vegas. A produção narra a vida e morte da maior estrela LGBTQIA+ da Espanha, Cristina Ortiz, conhecida por lá como La Veneno, a primeira travesti a fazer sucesso na televisão nos anos 90. Sem querer pintar a transexualidade de maneira excessivamente didática e por vezes, ofensiva, durante os oito episódios o assunto surge sem eufemismos, numa biografia sem retoques. Veneno é inteiramente focada na vida, marginalidade e sofrimento das travestis, sem deixar em nenhum momento se quer de dar voz à estas mulheres que na época tentavam carreira nos palcos e acabavam indo para as ruas, se prostituindo. A série, contudo, faz um trabalho notável em mergulhar no universo de uma personagem e encontrar ali uma singularidade que nos faz chorar e nos desperta. Famílias tóxicas existem e não houve jornada possível que trouxesse o perdão da família. Sem sombra de dúvidas, a série deixa um marco na história mundial da comunidade LGBTQIA+ a qual deve ser prestigiada e celebrada, pois todos nós merecemos uma dose de “Veneno”. Disponível na HBO Max
Gabriel Lara, artista, arte educador, ativista dos direitos humanos, sonhador convicto e um amante do audiovisual.