Nos últimos anos, uma revolução silenciosa tem acontecido nas agulhas de tricô, desafiando estereótipos e transformando uma técnica tradicional em uma fonte de renda e criatividade. O “tricotini,” como é carinhosamente conhecido, está quebrando barreiras e mostrando que o tricô não é mais apenas uma atividade associada às vovózinhas ou ao mero passatempo. O Jornal Correio bateu um papo com a crocheteira Josiane de Paula, de 28 anos, que contou como o tricotini se tornou profissão.
Tudo começou em março de 2021, quando a artesã estava em busca de uma guirlanda personalizada para seu segundo filho e tropeçou na arte do tricotin na internet. “Me apaixonei e tentei fazer eu mesma para ele. Como eu também estava precisando de uma renda extra sem sair de casa (sai do trabalho para ficar com os pequenos em casa), uni o útil ao agradável e já comecei a pesquisar mais sobre a arte para poder trabalhar com ela também”.
O tricotin pode parecer uma técnica complexa, mas sua essência é simples. Com apenas três passos fundamentais – o molde, a modelagem do arame e o encapamento do arame com a trama tecida do tricotin – é possível criar uma variedade infinita de peças únicas e personalizadas. As ferramentas essenciais incluem arame galvanizado (geralmente de número 14), alicate, linhas de algodão e agulha de tapeçaria. É a simplicidade que o torna tão atraente e acessível.
Para a artesã, sua veia artística herdada de seu pai desempenhou um papel crucial na criação de peças verdadeiramente únicas. “Então já criei peças exclusivas tendo por inspiração a decoração do quarto do bebê da cliente, uma logo ou marca dela, uma história específica, enfim…Meu gosto por desenhar me permite criar bastante, mas também me inspiro em trabalho de outras artesãs constantemente, e elas também no meu, e está tudo certo, a vida é sobre partilhar para crescer”, conta.
Embora o tricotin tenha raízes profundas na história como uma técnica artesanal tradicional, ele encontrou um lugar especial no mundo moderno. “Como disse o teólogo Alberto Magno certa vez, ‘o simples é absolutamente magistral’, e percebo isso no artesanato! Enquanto somos impactados todos os momentos por novidades, tecnologias, novas facilidades e comodidades, não há nada mais belo que a conversa em família, as crianças brincarem no quintal ou de cabana no chão da sala, uma contação de histórias no sofá ou na cama… Coisas simples e antigas, sem aprimoramento tecnológico, mas altamente eficientes porque contém simplesmente a essência humana, que é o olhar, o diálogo e o afeto. E o artesanato conserva isso em meio à tanta tecnologia que temos disponível, traz a essência do toque, do tempo, do cuidado e a personalidade do artesão em cada detalhe da peça… É lindo”.
A jornada de Josi não foi isenta de desafios. Ela compartilha suas lutas iniciais, desde o medo de começar algo novo até a dificuldade em dominar a parte de costura de cores. No entanto, sua determinação e paixão a levaram a superar esses obstáculos e aprimorar suas habilidades. Além disso, ela destaca o desafio constante de precificar suas peças de forma justa, garantindo que sejam acessíveis para seu público e que sua arte seja valorizada.
Além de criar suas próprias peças, também é uma mentora para aqueles que desejam aprender a arte do tricotin. “Desde o começo de tudo contei com a ajuda de uma artesã que virou uma amiga muito querida, Daniela Flauzino de Minas Gerais, ela já com anos de experiência, se dispôs a me ensinar tudo que eu precisava e me motivou muitas das vezes que quis desistir… Ela sabe que a gratidão à ela é enorme! E justamente por isso, toda artesã que vem perguntar algo pra mim eu dou muita atenção, ensino sim, gravo até vídeo se precisar, porque eu também passei por isso, precisei de ajuda, e encontrei alguém que quisesse ajudar sem querer nada em troca, então hoje eu faço questão de ser também essa pessoa”, enfatiza.
Quem quiser conhecer mais o trabalho da artesã, basta acessar as suas redes sociais. Você encontra as páginas dela como @trocotinidajosi.